O MEU ETHOS
Por Gecílio Souza
Meu rincão, minha terrinha
Que amo desde menino
Do Centro-Oeste é vizinha
Vigoroso chão nordestino
Ali a mãe é mainha
Vocábulo quase divino
Mulher, esposa e rainha
Fértil solo uterino
O painho quase advinha
De cada filho o destino
Todo lance é uma lembrancinha
Daquele mundo campesino
O facão sai da bainha
Afiado em corte fino
Corta osso e erva daninha
E espanta o animal felino
Ali a vida se alinha
Ao som do cósmico hino
Para a frente é que se caminha
Num andar não repentino
Morrer é perder o que não tinha
Pois o existir é interino
O amanhã está na salinha
Esperando bater o sino
Sempre que o futuro vinha
Trocava-se de inquilino
Abria-se uma janelinha
Para entrar um amor franzino
Um arbusto, uma sombrazinha
Refrigera o ser genuíno
A natureza não é mesquinha
O planeta é azul feminino
Com o tempo tudo se definha
Num processo paulatino
A terra não é sua nem minha
É o nosso social cassino
O prazer vale uma dosezinha
A dor é o maior desatino
Quando a alma é mesquinha
Se pensa com o intestino
A natureza sozinha
Não debela o assassino
As lições da escolinha
Habilitam o bom menino
A cidade é a aldeiazinha
Antropológico centro de ensino
O rio, o monte e a serrinha
Impressionam o homem ladino
A vida urbana é coitadinha
Crises, problemas e pepino
A alienação da telinha
Transforma em santo o cretino
No campo à tardezinha
Só se houve o rumino
Do bezerro e da vaquinha
Junto ao cavalo campolino
No povoado uma capelinha
E um povo peregrino
São João, Reisado e festinha
À noite ou sob o sol a pino
Novena, quermesse e ladainha
Há fã de Lutero e Calvino
Tem carnaval e marchinha
Tem festejo natalino
Há família moderninha
E casamento clandestino
Na memória uma vinhetazinha
Das proezas de Virgolino
A cultura é uma “mulherzinha”
Com conteúdo masculino
O homem porta uma armazinha
Porque no fundo é mofino
A vida é uma faisquinha
No crepúsculo vespertino