O AUTOMÓVEL BRASIL
Por Gecílio Souza
O Brasil mais se parece
Com um carro quando enguiça
De ladeira à baixo desce
Uma onda maldosa o atiça
O motor fraco desaquece
Corroído pela cobiça
A direção não obedece
Há ferrugem na dobradiça
O condutor não o merece
Seu caráter fede a carniça
Sua conduta enfurece
A vizinhança que se reboliça
O descontetamento cresce
Em areia movediça
O DUT do carro se apodrece
O combustível se desperdiça
A segurança desaparece
A estrutura virou cortiça
De garantias legais carece
A formalidade é postiça
Falso socorrista aparece
Com vernenosa hortaliça
O real dono se entristece
Face à institucional preguiça
Que ao titular não reconhece
Em lama se converteu a justiça
De gasolina se entorpece
A pele do dono se ouriça
Da trama nunca se esquece
A mídia infame se enfeitiça
O ódio que prevalece
Ameaça a cor mestiça
O equilíbrio desaparece
A tragédia é fronteiriça
Quando a prudência perece
A democracia é mortiça
A carne que se envelhece
Não serve para linguiça
E o carro não se abastece
A lataria ficou roliça
Por onde passa estremece
Até a pedra mais maciça
Cai na água não há prece
Somente a multidão o iça
A república se desvanece
Tornou-se a escrava noviça
A juizada se enriquece
E o dinheiro público desperdiça