Professor ou "profeshow"?
Professor ou profeshow?
Não entendo a incerteza
Se é que alguém duvidou
Veja a língua portuguesa
Que Camões utilizou
E sobre muito explicou
Com maestria e beleza.
Segundo o admirável
Suassuna nos legou
Fortuna inestimável
Sobre a palavra "show"
É coisa de americano
E de estrangeiro insano
Que ainda não se encontrou.
Mas "show" também pode ser
Palavra de brasileiro
Servindo para tanger
As galinhas no terreiro
Cabra e bode no curral
Os patos pelo quintal
E os porcos no chiqueiro.
Quando a gente põe lavagem
No velho cocho lamacento
Alguns pra levar vantagem
Pulam logo para dentro
E por não raciocinar
Começam a derramar
Tudo no mesmo momento.
É aí que gritamos "show!"
Sai pra lá porco danado!
Já tanto que se ensinou
Tu não entendes safado?!
Que aí não é teu lugar?!
Aí tu não vais ficar!
Passa aqui pra esse lado!
No momento eles caem fora
Mas não demoram a teimar
Pois logo, na mesma hora
Começam todos voltar
E fazem tudo errado
Oh! bicho escranzinado
Não adianta ensinar.
Nessa hora é comprovado
Que aquele nosso "show!"
Belo e americanizado
Em nada se resultou
Mesmo assim tão estimado
Não tem nada de sagrado
Pois de nada adiantou.
Tudo quanto ensinamos
No mesmo instante esqueceram
Aquilo de que falamos
E julgamos que aprenderam
Foi tempo jogado fora
Pois ali na mesma hora
Já nos desobedeceram.
Mas que besteira essa nossa
De querer orientar
E achar que bicho da roça
Tem cabeça pra guardar
Isso é uma grande bobagem
Bicho que come lavagem
Vai querer nos escutar?
Mas como já nós sabemos
Vou de novo asseverar
Essa é a forma que temos
De com eles "conversar"
De um lado eles grunindo
Do outro a gente insistindo
Em nosso "show" lhes mostrar.
Porém aqui é diferente
Não é com bicho que lidamos
O caso aqui é urgente
É com gente que tratamos
E não sei o que é pior
Sei que o rabo dá um nó
Da porca que ensinamos.
E aqui o "profeshow"
Fazendo suas doideiras
Eu já nem sei onde estou
No meio de tanta asneira
Mas vejo que estou lascado
Com esse povo abilolado
Fazendo essa cachorreira.
Quando ele entra na sala
Já vai logo observando
Se o povo estiver alegre
Ele começa cantando
Pede pra buscar um rádio
Leva todos para o pátio
Põe música e vai dançando.
Se a turma está agitada
Isso resolve também
Conta logo uma piada
Pra tudo um jeito ele tem
Pula em cima da cadeira
Faz mais uma brincadeira
Para alegrar os nenéns.
Assim vê-se a evolução
Ante o tempo que passou
Nessa "séria" educação
Que nobre rumo tomou
Pela devoção ao Estado
Desse ser iluminado
O ilustre "profeshow".
Nossa sala se tornou
Um parque de diversão
Pois o povo acordou
Daquela enrolação
Que a todo mundo cansou
E nunca apresentou
Qualquer significação.
Pois o homem no passado
Não via qualquer razão
Para todo o tempo usado
Em sua estéril formação
E para isso provar
Basta a gente observar
Sua pobre produção.
Não faziam poesia
A música era equivalente
A sua prosa, vazia
Em geral, inexistente
Aquilo era muito pobre
Não tinha nada de nobre
Era rude aquela gente.
Agora tudo mudou
O mundo está bem à frente
A educação melhorou
O povo é inteligente
"Profeshow" hoje rebola
Aluno não passa cola
Tudo está muito decente.
Hoje não tem mais besteira
Não se produz nada estanque
Hoje a coisa é de primeira
Nossa arte é o "funk"
A arte é na palma da mão
Pra descer até ao chão
E não tem o que a desbanque.
Aluno naquele tempo
Não entendia o porquê
De enfiar-se escola à dentro
E aquilo tudo aprender
Literatura, gramática
História e matemática
Era só tempo a perder.
Hoje o aluno é consciente
Hoje ele tem poder
Tudo agora é diferente
O aluno sabe é fazer
É gênio em matemática
Pois ele aprende é na prática
Lê bem e sabe escrever.
Faz textos maravilhosos
Dá gosto da gente olhar
Com pensamentos grandiosos
Coisa de se admirar
Ideias tão bem escritas
Com umas letras tão bonitas
Que nos fazem até chorar.
Agora há liberdade
Pois o aluno tem noção
Já que aprende de verdade
Tem uma boa formação
O aluno se transformou
Viva! o ilustre "profeshow"
E viva! a nossa educação.