esse povo nordestino já nasce com pouca sorte
Esse povo nordestino
Já nasce com pouca sorte
Esse povo nordestino
Já nasce com muita sorte
Nasce numa terra seca
Queimada pelo o sol forte
Sofre feito cão sem dono
Passa fome perde sono
E não a quem se importe
Vive numa vida dura
Morando num pé de serra
Vê tudo se acabando
De sede o gado berra
A água só quando chora
Pedindo a nossa Senhora
Pra chuva molhar a terra
Mora numa casa simples
Com tão pouco dentro dela
Tem um pote atrás da porta
Um tripé e uma panela
Tem dois ganchos na parede
Para armar a sua rede
E dar um cochilo nela
Tem a cristaleira velha
Que ganhou no casamento
O fogão inda é a lenha
O transporte é o jumento
Tem moinho pra relar milho
Tem um bocado de filho
Dividindo o sofrimento
Faz pena a companheira
Com a pele bem queimada
Trazendo um feche de pau
Numa corda amarrada
Por tão pouco agradece
Fazendo mais uma prece
Para santa imaculada
O esposo desesperado
Todo dia feito um louco
Sai a procurar um bico
Pra vê se arranja um troco
Se arranjar volta animado
De feijão traz um punhado
Mas de carne nem um pouco
Um magote de menino
Tudo lá de pés no chão
Não sabe o que é escola
Não conhece educação
Nem se quer assina o nome
Só pensa mesmo na fome
Que passa neste sertão
Sofre todo mundo junto
Com a seca arrojada
Sofre marido e mulher
Sofre toda a filharada
Esse povo nordestino
Faz tempo que é inquilino
Desta seca desgraçada
Falei um pouco do mal
Que traz o grande verão
Maltrata de fazer dó
Acaba com uma nação
Deixa o povo acabado
Vivendo desconsolado
Sem achar nem solução
Fica tudo aperreado
Tem deles que vai embora
Perde a crença perde a fé
Outros gritam geme e chora
Mulher, home e menino.
Implorando ao pai divino
Pelos tempos de outrora
O que vai, vai magoado.
Quem fica, fica chorando.
Mas torce pelo o que foi
E saiu perambulando
Pede pra Deus ajudar
Um trabalho ele arrumar
Pras coisa ir melhorando
Coitado do que se foi
Nem se quer pôde estudar
Chega à cidade grande
Nem se quer sabe falar
Vai sofrer de outro jeito
Vai sofrer com preconceito
Vai ter muito que penar
Talvez nunca consiga
Trabalho pra trabalhar
E passe a ser mendigo
Só vivendo a mendigar
Como muitos nordestinos
Mudaram o seu destino
Nunca mais pode voltar
Esse povo nordestino
Nasce mesmo pra sofrer
Sofre com a maldita seca
Que lhe bota pra correr
E correm pra capital
Vai de novo passar mal
Vai viver a perecer
É de não acreditar
O destino dessa gente
Quando está no seu sertão
Sofre com o sol ardente
Quando está nas capitais
Passa dias infernais
Parecendo um indigente
O tempo passa depressa
Sempre na mesma agonia
Não sabe o que é sossego
E nem tem mais alegria
É a mesma seca de cá
Que também está por lá
Sem nenhuma regalia
A seca daqui é seca
Que esturrica o nosso chão
A seca de lá é outra
É viver sem ter razão
É viver no meio do mar
Sem ter água pra tomar
É viver noutro sertão
Mas pior é não saber
Como está a parentada
Notícias que é bom não têm
Numa linha rabiscada
Dizendo se já choveu
Se Jesus se comoveu
Se a terra está molhada
É mesmo pra se lascar
A vida do retirante
Vive vagando no mundo
Não para nenhum instante
A tristeza bem fincada
Sem esperança de nada
Sofrimento é constante
Veja aí só um pouquinho
Do penar do meu irmão
Que padece com a seca
Que maltrata meu sertão
Veja aí só um pouquinho
Do sofrer do coitadinho
Que só vive de ilusão
Esse povo também grita
Com um grito de tristeza
Pedindo a autoridades
Que tenha mais gentileza
Que invista mais um pouco
Neste sertão de caboco
De fome e muita pobreza
O sertão tem outro lado
De riqueza e de luxo
Mas aqui eu quis falar
Da fome que seca o bucho
Quis falar numa nação
Que vive desnutrição
Tão seca feito capucho
Enquanto a maior parte
Não tem gosto pra nada
Os nossos governantes
Tem vida bem arranjada
Andam de carro blindado
De terno bem engomado
Gastando com mulherada
Já cansei foi de falar
E não vou falar mais não
Lamento o sofrimento
Do povo do meu sertão
Eu também sou desse time
Que sofre o mesmo regime
Por faltar mais atenção
É a tal seca que judia
Parecendo está raiventa
São políticos malfeitores
Que nossa vida tormenta
Eu peço para a nação
Que preste mais atenção
Que se não nós não aguenta
Nós podemos aguentar
A seca que nos maltrata
Mas jamais aguentaremos
Um bando de vira lata
Que são prejudiciais
Como às secas infernais
Que este cordel relata
Vou ficando por aqui
Esgotando a inspiração
Eu sei não fui completo
Mas falei com o coração
Eu digo firme e ciente
Que ficava mais contente
Falando bem do sertão.
Diosmam Avelino- 04- 02- 2014
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