Jazigo Eterno.
Cada segundo, minuto
Ou cada hora que passa,
Cada dia mês ou ano
Eu vivo acuando a caça,
Estando comigo a vida
A morte faz ameaça.
E se eu tiver a destreza
De passar despercebido,
Escondendo-me da morte
Mas não serei esquecido,
Vivo estando serei morto
Da vida serei banido.
E já no seio da terra
Bem pouco serei lembrado,
Se deixei bens em proveito
O que fiz será louvado,
Se passar em brancas nuvens
Serei amaldiçoado.
Vão dizer que nada fiz
Que o meu viver foi em vão,
Nada deixei de proveito
Para os que vivos estão,
Levo apenas meu saber
Pra sete palmos de chão.
E dai ficam sabendo
Que é sem retorno essa ida,
Que os que ficam continuam
Com as dores dessa lida,
Nos atropelos da estrada
E nas amarguras da vida.
E mesmo sem sentir nada
Terão cuidado comigo,
Porque da vida pra morte
A morte é o maior castigo,
E o pranto ali derramado
São flores pro meu jazigo.
Qualquer canto agora é bom
Porque em breve serei pó,
Se estou levando alguém
Ou se estou partindo só,
Eu não preciso de guia
Nem que de mim tenham dó.
Se a cova é funda ou se é rasa
Que diferença isso faz?
Se vão queimar os meus restos
Isso não me importa mais,
Não sou mais dono de mim
Deixem-me partir em paz.
A vida não existe mais
Ali onde agora estou;
Não ouvirei mais gemidos
No lugar pra onde vou,
E as noites serão eternas
Porque a vida se acabou.