trauma nordestino

Trauma nordestino

Sou fino pernambucano

Isso nunca causou dano

Cada dia e cada ano

Amo mais o meu sertão

Sertão que sofre demais

Com as secas infernais

Sofre gente e animais

Sem cair chuva no chão

Quando a chuva se ausenta

Muita gente se lamenta

A paciência se arrebenta

E abandona o seu torrão

Pega a tralha vai embora

Sai por esse mundo a fora

Com saudades de outrora

Derrama lágrima no chão

A saudade torturando

O seu peito machucando

Ajoelha-se implorando

Para cristo lhe ajudar

Reza dizendo senhor

Ajude-me, por favor,

Acabe com minha dor

Que não posso suportar

Ó senhor faço oração

Pra chover no meu sertão

Pra nascer à plantação

E o meu povo se alegrar

Chovendo na minha terra

A tristeza se encerra

Dou adeus pra essa guerra

E volto pro meu lugar

Enquanto a chuva não cai

Pro nordeste ele não vai

Sente saudades do pai

E da mãe que lá deixou

É mais duro o seu viver

Passa o dia sem comer

Pensando só no sofrer

De quem no sertão ficou

De noite se vai dormir

Escuta a chuva a cair

Acorda-se a sorrir

Pensando que é real

E logo após se acordar

Ele começa a chorar

Vendo que estava a sonhar

Baixa mais o seu astral

Senta e fica calado

Com semblante abalado

Passa a noite acordado

Lembrando, da sua gente.

Lembra do boi afamado

Do cavalo bom de gado

Do terreno preparado

Para plantar a semente

Lembra com muita emoção

Das festas de apartação

Do chapéu e do gibão

Quando andava encorado

Mas a seca é muito ingrata

Cada dia mais maltrata

E o vaqueiro se afasta

Pra viver no isolado

Peço para o pai divino

Um salve pro nordestino

Cuide bem desse inquilino

Acabe com o seu sofrer

Ó meu Deus onipotente

Olhe para essa gente

Que sofre pausadamente

Querendo sobreviver

Olhe para os animais

Que são tão irracionais

Eles não sabem o que faz

Sem ração e sem bebida

Morre gemendo de fome

O urubu já vem e come

Como quem assina o nome

Pula em cima da comida

Todo ano o mau proveito

A seca causando efeito

E não tem quem der um jeito

Nessa grande maldição

Só nos resta é apelar

De joelhos se curvar

E pedir pra Deus mandar

Uma grande salvação

Deus ouvindo a nossa prece

O nordeste não decresce

Por que o povo carece

De chuva para viver

Chovendo é uma beleza

Alegra-se a natureza

E o povo na mais certeza

Que não vai mais perecer

Bem do fundo lá da alma

Eu tirei com muita calma

Resumindo esse trauma

Que assombra o nordeste

Ainda quando menino

Eu já via o nordestino

Pedindo ao pai divino

Remédio pra essa peste

Essa peste é o verão

Que destrói nosso sertão

Acaba a vegetação

Sem pena e sem piedade

Deixando a serra cinzenta

A água muito barrenta

Só o sertanejo aguenta

Esse tipo de maldade

A maldade judiando

Lentamente vai matando

Como quem tá se vingando

Sem nenhuma paciência

Deixando tudo obscuro

Para o nordestino puro

Que se sente inseguro

Com tamanha violência

Violência violenta

Tanto mata e tormenta

Mas o nordestino tenta

Encontrar a salvação

Sobrevive no sufoco

Corta pau arranca toco

Em troca de qualquer troco

Pra comprar o seu feijão

Quando não arranja nada

Come a palma assada

Divide com a criançada

Com os olhos marejados

A mulher baixa a cabeça

Ó meu Deus não se esqueça

Faça com que a chuva desça

Pra florir nossos roçados

Apela para o prefeito

Fica mais insatisfeito

Quando vê que não tem jeito

Com a tal autoridade

Autoridades em vão

Só aparece na eleição

Pegando de mão em mão

Dizendo ser da bondade

É assim que se relata

Essa sina muito ingrata

Que chega e nos maltrata

E nos deixa sem ação

Dá vontade de chorar

Quando eu chego a lembrar

Que só serve pra votar

A nossa população

Acredite meu irmão

Tem gente sem coração

Que zomba da aflição

Aproveitando pra lucrar

Vendendo água na lata

Por uma quantia alta

No preço de ouro e prata

Só pensando em ganhar

É tanto aproveitador

Desonesto e malfeitor

Que aproveita sem clamor

Desse pobre vitimado

Vitimado da estiagem

Que engole a barragem

Que destrói uma paisagem

E deixa o quadro mudado

O quadro fica mudado

O curral escancarado

Não se ouvi o badalado

De um chocalho a tocar

Não tem galo no poleiro

Não tem porco no chiqueiro

Não tem pinto no terreiro

Nem tem cão pra vigiar

A cena é de tristeza

Falta comida na mesa

Só sobra muita pobreza

Nos confins do meu sertão

A pobreza transbordando

Como barragem sangrando

Como rio que vai jorrando

Entre grota e grutilhão

Eu termino a poesia

Esperando com alegria

Descrever num outro dia

Falando em coisa boa

Falando que o sertão

Tem água no ribeirão

Tem fartura de montão

E gente sorrindo a toa.

Diosmam Avelino- 30- 11- 2013

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DIOSMAM AVELINO
Enviado por DIOSMAM AVELINO em 24/11/2017
Reeditado em 31/05/2019
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