O rali da vida.
Sou um passo no passado
Um pedinte na esquina
Pobre, feio, esfarrapado,
Um doente sem vacina
Faminto e abandonado
Preso em minha ingrata sina.
Dei mil passos para frente
Dei milhares para traz
Com a dor fui conivente
Esqueci quem vinha atrás
Hoje sou mero descrente
Nada fez e nada faz.
Sou passado sem presente
Sou presente sem passado
Um portal sem o batente
Fogão de lenha apagado
Sertão de sol inclemente
Solo pobre e ressecado.
Nas entradas das fazendas
Reclamei do meu destino
Adentrei em muitas sendas
Pra fugir do desatino
Talvez não me compreenda
Mas assim foi meu ensino.
Reli muitos alfarrábios
Para ter conhecimento
Não cheguei a ser um sábio
Mas também tive o momento
De falar com os meus lábios
Sobre o meu convencimento.
Falei muito para poucos
Falei pouco para muitos
Ouvi o falar dos loucos
Para os quais eu fui assunto
Também fiz ouvidos moucos
Para quem era adjunto.
Já furtei meu alimento
Já comprei coisa furtada
Não cumpri o juramento
De fazer coisa acabada
Perdi parte do meu tempo
Vivendo de forma errada.
Tive muita afinidade
Com promessa não cumprida
Procurei facilidade
Vendo coisa descabida
No final, com mais idade,
Não caminhei na subida.
Encontrei quem me dizia
Que podia ser feliz
Esse alguém nada devia
E não era um infeliz
Era alguém sem agonia
Que sabia o que eu fiz.
Me falou sobre a doença
E saúde duradoura
Falou sobre a paciência
Sempre encorajadora
E falou sobre a prudência
Que da paz é causadora.
Vi assim que o meu caminho
Era uma ponte quebrada
Não seguia o meu destino
Porque não chegava a nada
Assim fui ao meu vizinho
Para ver a minha estrada.
Ele então me convenceu
Que a estrada está em mim
Ela é o que Deus me deu
E pertence só a mim
E depois se ofereceu
Ajudar-me até o fim.