REGIME DE ESCRAVIDÃO
(Joésio Menezes)
Certa vez uma Ministra
Reclamou do seu salário:
Disse ela estar recebendo
Abaixo do necessário,
Pois o que ela recebia
Nem com apertos daria
Pro seu sustento diário.
Também foi dito por ela
Que seu cargo exigia
Maquiagem retocada,
Elegância todo dia;
Roupas e sapatos caros,
Além de perfumes raros
E beleza em demasia.
A Ministra disse ainda
Que sua remuneração
Era análoga ao regime
Vigente na escravidão:
Só trinta e três mil reais
E outras regalias a mais
Recebidos da Nação...
Por esse salário “micho”
Eu até me submeteria
A trabalhar feito escravo,
Dia e noite, noite e dia.
E pro bem da minha imagem,
O tal “auxílio maquiagem”
Eu até dispensaria.
Eu dispensaria, ainda,
O automóvel oficial
Com chofer particular
E o repouso semanal.
Eu também abriria mão
Do auxílio alimentação
E do imóvel funcional...
Por trinta e três mil reais,
Eu pouco me importaria
Com a falta do jatinho
E do auxílio moradia;
E o “cartão corporativo”,
Pra muitos um atrativo,
Eu também dispensaria.
De tão modesto que sou,
Eu dispensaria também
Algumas roupas de grife
E o Notorious da Lauren;
E sem muito reclamar,
Eu toparia trabalhar
Sem a ajuda de ninguém;
Inclusive, eu comeria
Carne seca no feijão,
Galinhada com pequi
Ou peru com macarrão!
Só não daria pra ficar
Sem poder me refrescar
Com meu suco de limão.
Pelo “mísero” salário
De trinta e três mil reais,
Não me importaria ficar
Fora das redes sociais,
Mas uma coisa eu digo:
Não me vendo ao “inimigo”
Por nenhum centavo a mais,
Pois viver nesse “insalubre
Regime de escravidão”
É somente pra quem pode,
Não é pra qualquer um não:
Os “mais fracos” são vencidos
E seus ideais são vendidos
Ao tinhoso cramulhão...
Pois é, Senhora Ministra!...
Se é escravo o seu labor,
O que podemos dizer
Sobre o do trabalhador
Que recebe um salário
Tão mínimo e ordinário
Que mal paga uma flor?
Se trinta e três mil reais
Não é verba suficiente
Pra se ter tranquilidade,
Pra se viver dignamente,
Eu gostaria de saber:
Como pode alguém viver
Com mil reais tão somente?
16/11/2017