A VOLTA DA INSENSATEZ
Por Gecílio Souza
A civilização moderna
Fracassou ou está doente
O ciclo de instabilidades
É contínuo e permanente
Os conflitos culturais
Têm indicativo ascendente
Os intervalos não ensejam
Um conserto suficiente
Para restabelecer a paz
Da qual o mundo é carente
Mundo este que emite
Um alerta diariamente
O estresse da humanidade
Dá uma sensação na gente
De que o planeta é inóspito
E a sua fadiga é aparente
O que está acontecendo
Não é tão surpreendente
É a herança do passado
Ressurgindo no presente
A lei do eterno retorno
É uma realidade vigente
Mas a repetição dos fatos
Torna a história indecente
Na aurora do século 21
Não se olha mais em frente
A doutrina do retrocesso
Ergueu sua voz estridente
Questionar se tornou crime
O pensador é delinquente
Reabilitam a Idade Média
Na sua deplorável vertente
As trevas enfrentando a luz
Em nome do Onipotente
A doxa contra a episteme
Essa trama é reincidente
Satanizam-se a arte
Com o pretexto recorrente
Defesa dos “bons” costumes
E então formam corrente
Persecutória da liberdade
E atraem um contingente
De almas desinformadas
Cuja ignorância é patente
Irônico é que os defensores
Desta ideologia demente
Se auto definem liberais
Mas sua tese é equivalente
À doutrina nazifascista
Um perigoso precedente
A liberdade é um valor
Se lhes for conveniente
Induzem o simpatizante
A se tornar combatente
Do “comunismo” “imoral”
Por ser ateu e descrente
E assim o fundamentalismo
Vai se tornando atraente
Para o indivíduo em crise
Que o aceita simplesmente
Adere-se ao fanatismo
É mais um tolo contente
Repete frases e chavões
Longe de ser convincente
Seus idolos arruinaram o mundo
Num passado bem recente
Infestam as redes sociais
Com blá blá blá deprimente
Se auto-proclamam cristãos
Mas segregam o indigente
Defendem a pena de morte
Olho a olho, dente a dente
Recitam os evangelhos
Esterilizam-lhes a semente
Contrariam o princípio
Do homem sensato e prudente
Nos palcos e nos altares
Fazem pregação comovente
Misóginos, tratam a mulher
Como um ser subserviente
Veda a diversidade de gênero
Com um ódio intransigente
Que doutrina mais exdrúxula
Que fé contraproducente
Querem suplantar as escolas
Intromissão inconsequente
Sua visão antopológica
É zero, é inexistente
Raivosos, se posicionam
Contra as práticas do Oriente
Porém eles próprios são
Os Bin Laden do Ocidente
Do ponto de vista ético
Sua conduta é deficiente
De história e sociologia
O saber ficou ausente
Invocam o regime militar
Que tem uma dívida pendente
Com os nativos e os pobres
E o povo afro-descendente
Mas o entulho autoritário
É teimoso e persistente
Eelegeu a filosofia
Como principal oponente
Pois a crítica filosófica
É profunda e contundente
Renegam os pensadores
Obscurantismo novamente
São os saqueadores da Terra
Algozes do meio ambiente
Transformaram o planeta
Num deserto seco e quente
A redenção da cultura
É um sonho decandente
Há dúvidas se o ser humano
De fato é inteligente
Suas levadas e peripécies
Assustam até o adolescente
A ganância e a insensatez
Seguem a espiral crescente
Incriminam o senso crítico
Não toleram o divergente
A sua política não permite
Ser e pensar diferente
Um dos grandes desafios
É pensar profundamente
O saber revoga os dogmas
Que se diluem na tangente
E então a realidade
Passa a ser clarividente
É o mundo sob outa ótica
É a vida sob outra lente
Para a sujeira das trevas
A filosofia é detergente
Mas quem atua nas sombras
Odeia o sol transparente.