Tibá, lugar de encontro
Johan nasceu na Holanda
Viveu no México, Equador
Mestre, espírito que anda
Alagados de Salvador
Bioconstrutor da favela
Eu queria ser Tom Jobim
Tijolo bom num esfarela
Don Juan de Bom Jardim
Do adobe eu faço pilastra
Tem até salsicha de terra
Cordel é erva e se alastra
É rima que nunca emperra
Aqui, só tem povo letrado
A rima é a minha aposta
Na França ela faz mestrado
Aqui, pisa barro com bosta
Eu penso fora da caixa
Dinheiro não me corrói
E logo a rima se encaixa
Pensar é grátis, não dói
Respeite toda ciclo-faixa
Não ande na contramão
A vida não é planta-baixa
Poesia não tem dimensão
Aplique o barro com areia
Retire excesso com régua
E o Marc é quem aperreia
Sujeito não me dá trégua
Ao Tibá eu logo me apego
Atenção ao toque do sino
Cordel é martelo no prego
Tehuani é que torna divino
Plante verdura em caixote
Arquiteto, use a intuição
Aparece de novo um mote
No bambu faço amarração
Do bambu fizemos um arco
Retiramos das ripas o nó
Sigo remando esse barco
Que balança ao som do forró
Com areia, esterco e barro
Faço casa de pau-a-pique
Com a rima de novo esbarro
O prego de bambu é tabique
E domo é coisa de asteca
Banheiro de adobe é bason
Adobe que nunca resseca
E o Cobi é quem dá o tom
Se modifico a natureza
Sigo a forma harmônica
Hei, Marc, tenha certeza
A rima tem sílaba tônica
Juntando amigo e amiga
Debaixo de um pau-brasil
Tem gente, muita formiga
Que brincadeira infantil!
Na grade eu faço tijolo
Desenho uma armação
Do barro eu faço bolo
Construo taipa de pilão
Antes do café tem yoga
Almoço, suflê de chuchu
Capoeira, menina, se joga
Na arte de cortar o bambu
Esterco reage com argila
Adobe vem do aramaico
O curso num tem apostila
Johan dá aula de hebraico
Conversa com a natureza
Viaja no tempo, no espaço
Johan, o velhinho-beleza!
É o arquiteto descalço
No Tibá, plantei a semente
Viajei no alfa e no beta
Construí um cordel diferente
Pro sorriso da arquiteta!
Se tla é o mesmo que arte
Yol vem do teu coração
Meus colegas de toda parte,
Termino o cordel: gratidão!