o pobre
Literatura de cordel:
O pobre
Eu digo por que eu sei
Eu digo por que sentido
O pobre sofre demais
Feito limão espremido
Corre, corre e nada dá.
Vai pra lá e vem pra cá
E fica mais deprimido
Parece até mentira
Mas não é mentira não
O pobre vive urrando
Como urra qualquer cão
Seu semblante é tristeza
Sua voz é uma frieza
É vitima da depressão
Tá na cara do seu ser
Um semblante estampado
Seu olhar é cabisbaixo
O sorriso é apagado
Não tem como esconder
De longe já dá pra ver
Que vive desesperado
Às vezes perde a crença
Fica desacreditado
Não ora nem faz pedido
Pensa que é desprezado
Tem sofrido sem medida
Já desanimou da vida
Vai viver só no pecado
O pobre pra completar
Vai vivendo sem razão
Chega um e chega outro
Faz piadas sem noção
Dizendo sem sutileza
Tais vivendo de beleza
Parecendo com um pavão
Mas quando chega o natal
Não pode comemorar
Quando é no fim do ano
Nada tem pra festejar
Vive mesmo complicado
Seu viver é enrolado
Sem poder desenrolar
O pobre tem mesmo o dom
Para ser um sofredor
No verão sofre com seca
Que castiga sem pudor
Deixa tudo bem tostado
Deixa o pobre agoniado
Com tamanho desamor
Ele sofre com a seca
Que se chama estiagem
Sofre quando vem à chuva
Com uma grande bagagem
Sofre com a seca então
Sofre com a inundação
Da natureza selvagem
Alguns para esquecer
Mete a cara na cachaça
Tem outros já nem ligando
Rindo dá própria desgraça
E assim vão rastejando
E assim vão vegetando
Dizendo que um dia passa
A seca não perde a vez
Pra fazer devastação
Leva tudo devagar
Fazendo a judiação
Fica o pobre ali ferrado
No sufoco sufocado
Sem ar e respiração
O pobre tem mesmo o dom
Como eu disse lá atrás
Pra sofrer é bem divino
Essa sina o pobre traz
E mesmo no desengano
Às vezes está orando
Pra deter o satanás
O pobre faz um esforço
Compra uma televisão
Divide em dez parcelas
Pra pagar em prestação
Sem ao menos esperar
Vem alguém pra lhe tomar
E esse alguém é o ladrão
Mas veja quanta agonia
Veja quanto sofrimento
O pobre trabalha tanto
Parecendo um jumento
E ganha uma merreca
O pobre já tá careca
Isso não tem cabimento
Coitado do pobrezinho
Que só vive no desgosto
O salário é bem menor
Do que esse tal imposto
O pobre não tem saída
Seu sofrer é sem medida
Pra nada ele tem gosto
Ao comprar um carro velho
Só aumenta o seu penar
Quando estoura um pneu
Não tem outro pra botar
Seu viver é penitência
Tem que ter é paciência
Você pode acreditar
Às vezes o pobre sonha
Com a sorte a rodear
Pega grana emprestada
E corre para arriscar
Vai falar com o bicheiro
Jogue aí esse dinheiro
Todinho nessa milhar
Passa o dia ansioso
Esperando o resultado
E quando confere o jogo
Fica desacreditado
E volta bem descontente
Na estrada no sol quente
Vendo tudo dar errado
Abre a boca pra falar
Dizendo muita besteira
Discuti com Jesus Cristo
Diz um monte de asneira
Pede a morte quer morrer
Pois assim não quer viver
É tão grande a choradeira
Certa vez me deparei
Com alguém bem furioso
Dizendo ser azarado
Que estava desgostoso
Me falava com aflição
Pobre não tem solução
É também muito lodoso
Eu fiquei foi sem ação
Sem saber o que dizer
Sei que pobre sofre mesmo
É tão grande o seu sofrer
Pois eu digo meu irmão
tenha mais animação
Que de certo irás vencer
É tanta dificuldade
Que sofre a classe baixa
Vive sempre procurando
Com cabeça cabisbaixa
Mas procure com jeitinho
Que terá sim um caminho
E tudo logo se encaixa
Para quê tanto lamento
E pra quê tanta descrença
Acredite na verdade
A verdade é Valença
Acredite no senhor
Jesus cristo é curador
Se tiveres nele crença
Analise os problemas
Deixe de se lamentar
Quanto mais você lamenta
Muito mais vai aumentar
Dê um passo para frente
Peça ao pai onipotente
Forças no seu caminhar
Finalizo o meu cordel
Pedindo para o senhor
Que olhe pra todo mundo
Que nos cubra de amor
Negro, branco, rico, pobres.
Que nos faça todos nobres
E da paz conhecedor.
Diosmam Avelino- 02- 01- 2015
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