o jogador

Literatura de cordel:

O jogador

O jogo era valendo

Trouxe a trinca de ais

Fui dentro puxei a dama

E ficou foi bom demais

Pra bater no rei de paus

Ganhando dez mil reais

Um caboclo me olhou

E ficou a me encarar

Eu sentir nos olhos dele

A maldade rodear

Mas calado eu fiquei

Para o jogo continuar

Outro cara disse assim

Pegue as cartas pra traçar

Eu tracei e dei as cartas

Três em três pra não errar

Um deles pronunciou

O melé pode virar

Começamos a partida

Todo mundo bem calado

E após duas rodadas

Eu puxei, fiquei pifado.

Descartaram uma carta

Eu bati no par colado

Um deles bateu na mesa

Pra tentar intimidar

Foi logo dizendo brabo

Jogue o jogo sem roubar

Pois aqui não tem Mané

Pra você nos enganar

vi a coisa ficar preta

E mudei logo a feição

Quando retracei as cartas

Vim batido foi demão

E fiquei aperreado

Com a mente em aflição

Começou outra partida

Eu com medo de bater

E após cinco rodadas

Eu pensei no que fazer

Pois batendo a parada

Corro risco de morrer

Puxa cartas e descarta

E todos a reclamar

Um deles falou bem sério

Falta muito pra pifar

E outro já reclamando

Jogue o jogo sem falar

Fui faltando paciência

E ficando enfezado

Passaram-se dez rodadas

E eu bem aperreado

O jeito fui eu bater

Mesmo todo amarelado

O caboclo valentão

Levantou para brigar

Foi pegando no meu braço

Dizendo vou lhe matar

Outros dois amenizaram

Tentando lhe acalmar

Mas ele não se acalmou

E puxou uma pistola

Apontou pro meu pescoço

Por cima da minha gola

Dizendo vou acertar

Bem no meio da cachola

Foi aquele fuzuê

Você pode acreditar

Eu fiquei todo gelado

Sem poder nada falar

Com o coração pulando

Com vontade de chorar

Tenha calma, espera aí.

Era aquela gritaria

Quando lembro essa cena

O meu corpo se arrepia

Muita gente ainda diz

Que eu nasci naquele dia

Alguns dos camaradas

Conseguiu tranquilizar

Tomaram dele a pistola

E levaram pra guardar

E outros achando pouco

Querendo mais atiçar

Quando eu vi a calmaria

Respirei e aliviado

Dizendo em pensamento

Ó senhor muito obrigado

Por pouco que eu não fui

Neste jogo assassinado

E quase que eu coloco

O bloco na avenida

É como se diz o ditado

No bloco final da vida

Vestido num terno branco

E feito sob medida

Como Deus é muito bom

Ele trouxe a salvação

O homem não me matou

Mas ficou uma lição

Dinheiro só com trabalho

De jogo quero, mas não.

Eu me pus a relatar

E fazer a contação

Escrevendo num cordel

Com a tal dá rimação

Pra falar duma estória

Que quase fui pro caixão

E tantos de mundo a fora

Tropeçaram neste azar

E caíram num buraco

Para nunca, mas voltar.

Aos poucos se destruíram

Sem ao menos nem notar

É tão triste um viciado

Chamado de jogador

O jogo é um veneno

Perigoso e matador

Pois na arte de jogar

Todo mundo é perdedor

Pra quem entra nesta onda

Carregado de ambição

Eu lhe digo na verdade

Todo jogo é ilusão

E o premio que se ganha

É uma forte depressão

Analise e veja bem

Pra você não se afundar

Eu tive sorte e escapei

Estou aqui para contar

E quantos que gostariam

De viver no meu lugar

Tanta gente já se foi

Fisgado por esse mal

E Outros perderam tudo

Neste vicio desleal

Que oprime e que mata

E seu castigo é infernal

Quero dizer pra você

Que preste bem atenção

O jogo é desse jeito

É coisa dá tentação

Por isso não entre nessa

Não perca seu tempo em vão.

Diosmam Avelino- 27-10- 2015

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DIOSMAM AVELINO
Enviado por DIOSMAM AVELINO em 01/11/2017
Reeditado em 31/05/2019
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