AMOR X SOLIDÃO
Por Gecílio Souza
Parece que os sentimentos
Salvo honrosa exceção
Vivem uma guerra interna
Afetiva competição
Duelo existencial
Entre o amor e a solidão
Ele quer nos pôr de pé
Ela nos atira ao chão
Os impulsos em geral
Assemelham-se ao vulcão
Quando menos se espera
Eles entram em ação
Exaure-se a prudência
E eclipsa-se a razão
O amor aquece a vida
Faz pulsar o coração
Quanto à vida solitária
Estaciona na contramão
Dilacera todo o ser
Põe a mente em ebulição
Bombardeia a auto-estima
Potencializa a depressão
Liquida o otimismo
Congela a disposição
A luminária da esperança
Se apaga na desilusão
O amor restabelece
A aprazível sensação
Ele deflagra os sonhos
Dá mais nitidez à visão
No espaço do espírito
Flutua como o balão
Quando cai vira inflamável
Na fogueira da paixão
O amor inspira a poesia
Ele é a gênese da canção
A solidão devasta a alma
Jogando-a na escuridão
Mata o sono e o apetite
Traz à tona a emoção
O horizonte se fecha
Na sentimental cerração
Ela se associa à morte
E juntas carregam o caixão
Do vivo morto solitário
Que não tem mais ambição
De amar e de viver
Jogou fora o bastão
Se o amor não resgatá-lo
Será a sua perdição
O amor é espontâneo
Dispensa apresentação
É gratuito e não tem preço
Mas pede retribuição
Se manifesta no olhar
No leve toque da mão
Melhor a bronca do amor
Que o silêncio da omissão
Uma alma solitária
Atola-se na introspecção
Fica débil e combalida
E carente de atenção
Sai vagando por aí
Sem rumo e sem direção
Nos bares e nos botecos
Extravasa-se a frustração
O copo se torna confidente
Ouve queixas e confissão
O álcool acolhe a angústia
Feita gente no balcão
O amor dorme inocente
No refúgio atração
Reverências lhe são justas
Amor é uma condição.