Doença de velho
I
Quando o cabra fica velho
Tudo de ruim aparece
A memória fica fraca
De quase tudo ele esquece
Ouve pouco, enxerga mal
Tem problema intestinal
De vez em quando adoece
II
De todas essas mazelas
Que o idoso padece
O problema intestinal
É o que mais lhe aborrece
Pior do que a demência
Pois lhe causa flatulência
O anus não lhe obedece
III
Quando o velho está sozinho
Ele peida solitário
Peida na sala, no quarto
Muito mais no sanitário
Na hora da reunião
No meio da multidão
Até no confessionário
IV
Ainda não sou tão velho
Eu mal passei dos sessenta
Mas já entrei nesse time
Só minha mulher me aguenta
Ela pode até sorrir
Mas à noite pra dormir
Põe VAPORUB na venta
V
Eu passo o dia peidando
No café de manhãzinha
No almoço, no jantar
No lanche de tardezinha
Á noite durmo na boa
Mas diz a minha patroa
Que eu peido a noite todinha
VI
Tentando evitar os gazes
Mudei de alimentação
Pois um amigo me disse
Que era culpa do feijão
Mas já estou retornando
Pois continuei peidando
Não houve melhora não
VII
Passei a desconfiar
De quase todo alimento
Qualhada, leite, iogurte
Tudo que leva fermento
Mudei mas não fez efeito
Eu peido do mesmo jeito
É um eterno tormento
VIII
Por causa de tanto peido
Vivo passando vergonha
Quando ele fede sem som
Faço uma cara risonha
Mas um dia, displicente
Soltei um peido estridente
Na frente de Dona Antonha
IX
Dona Antônia a faxineira
Estava na arrumação
Quando passei perto dela
Carregando um garrafão
Desses de água mineral
Por um descuido fatal
Escapou um foguetão
X
Não deu nem pra disfarçar
Pois foi um peido amostrado
Disse nome e sobrenome
Pra ficar documentado
Como não pude fingir
Eu comecei a sorrir
E saí muito apressado
XI
Minha mulher ao ouvir
Olhou sem acreditar
Na minha cara de pau
Ao ser capaz de peidar
Na frente da empregada
Caiu numa gargalhada
Não conseguiu controlar
XII
Certa vez num restaurante
Estava descontrolado
Já tinha peidado tanto
Que um sujeito ao meu lado
Reclamou com o gerente
Dizendo que certamente
Tinha um esgoto estourado
XIII
Outro dia foi na missa
Eu peidava bem feliz
Uma senhora ao meu lado
Beata lá da Matriz
Quando algum cheirava mal
Fazia o “Pelo Sinal”
Levando um lenço ao nariz
XIV
Numa excursão pra Natal
No ônibus eu fui peidando
E quando o fedor das bufas
Começou se espalhando
Alguém gritou – condutor
Pare o ônibus por favor
Que tem alguém se cagando
XV
Num elevador lotado
Um dia foi de lascar
O desgraçado enguiçou
Acho que no sexto andar
Soltei um silencioso
Mas, um bicho catingoso
Desses de o pulmão travar
XVI
Não bastasse o desespero
Do elevador parado
Não dava pra se mexer
De tanto que era apertado
A catinga era tão forte
Não morreu gente por sorte
Mas um saiu desmaiado
XVII
Eu soltei um num velório
Sei que ninguém escutou
Mas quando o fedor subiu
Quem chorava se calou
Não teve encomendação
Encerraram a oração
Até o morto espirrou
XVIII
Eu fui perguntar ao padre
Se peidar era pecado
Ele disse – Não, meu filho
Pode ficar sossegado
Não vou lhe dar penitência
Pois a sua consciência
Já lhe faz ser perdoado
XX
O médico foi muito vago
Quando fui lhe consultar
Disse que não tem remédio
Não é doença peidar
Peidar é bem natural
Faz barulho e cheira mal
Mas não tem como evitar
XVI
Então fiquei sossegado
Não vou mais me preocupar
Se até o médico peida
Quem sou eu pra me queixar?
Vou confessar a vocês
Já soltei uns dois ou três
Enquanto estive a falar