a feira que não pude pagar
Literatura de cordel:
A feira que não pude pagar
Eu comprava tudo à vista
Pois era bem empregado
Mas perdi o meu emprego
E estou desempregado
Falei com o bodegueiro
Pra poder comprar fiado
Eu fiz lá umas comprinhas
Açúcar café e arroz
Ele disse compre mais
Você vai pagar depois
E também já é antiga
A amizade de nós dois
Peguei logo na sua mão
E disse muito obrigado
Eu fico mesmo feliz
Por ser tão considerado
Logo mas eu voltarei
Pra comprar mais um bocado
Com três ou quatro dias
Eu voltei para comprar
Fiz uma feira de tudo
Até fumo pra fumar
Comprei ovo e sardinha
E cachaça pra tomar
Comprei óleo e manteiga
Farinha, sal e feijão.
Comprei mocotó de boi
Pra poder fazer pirão
Raspadura e bolacha
Detergente e sabão
Resumindo a conversa
De tudo comprei um pouco
Comprei pimenta da boa
E também tripa de porco
Para tomar um banho
Comprei o sabão de coco
Também para completar
Eu mandei botar na feira
Uma liga de borracha
Pra fazer baleadeira
Só pra ver a molecada
Caçar a semana inteira
Eu fiquei foi tão alegre
E também bem satisfeito
Com o coração batendo
Pulando dentro do peito
E levei pra molecada
Um punhado de confeito
Mas também não esqueci
Dá mulher que admiro
Pra botar no seu cabelo
Uma dúzia de biliro
E ele ficou contente
Que chega deu um suspiro
Uma caixa de giletes
Pra poder me barbear
Cartuchos e espoletas
E pólvora pra carregar
Carregar a espingarda
Que eu levo para caçar
Pois tudo que lá comprei
Já falei comprei fiado
A conta não foi lá tanto
Mas fiquei endividado
E o tempo foi passando
Eu ficando preocupado
Passaram-se trinta dias
Não tinha nem um cruzado
Não pude pagar a dívida
Fui ficando envergonhado
Nem de casa mais saía
Com medo de ser cobrado
Quando menos esperei
Tinha alguém a me chamar
Era o dono da bodega
Que veio pra me cobrar
Eu fiquei até vermelho
Sem saber o que falar
Foi dando logo um bom dia
Perguntou se eu estava bem
Depois disse, e meu dinheiro.
Quando é que você tem
Pois eu não botei bodega
Para sustentar ninguém
Falei, estou apertado.
Desculpe por eu falhar
Vou ver se meu compadre
Tem algum pra emprestar
Ele tendo eu pagarei
Pra você não me sujar
Eu só lhe comprei fiado
Evitando passar fome
Não sou daqueles tipos
Que compra e depois some
Prezo a honestidade
Honrando muito meu nome
Depois que dei a palavra
Ele disse, eu vou embora.
Só volto de hoje a oito
Mais ou menos nessa hora
Eu pensei comigo mesmo
O que é que faço agora
Lembrei do meu compadre
Fui direto a casa dele
Cheguei lá desconfiado
Sem saber falar com ele
E sem jeito abrir o jogo
Confiando muito nele
Ele deu foi gargalhadas
E ficou mais debochando
Eu senti uns arrepios
E as pernas trepidando
Dei pra ele um até logo
E sair quase chorando
Quando a gente cai na lama
Ninguém vem nos dar a mão
De um milhão se tira um
Que tenha bom coração
É triste um pai de família
Sem ganhar nenhum tostão
Mas voltando ao assunto
Eu voltei e fui pra casa
Com o peito a queimar
Parecendo uma brasa
Como pinto que procura
Dá mãe dele a sua asa
A mulher me consolou
Vendo a minha tristeza
Pedindo pra me acalmar
Com tanta delicadeza
Eu nada de me acalmar
Pensando na tal despesa
Mas então chegou a hora
Dá volta do bodegueiro
Eu nada de conseguir
Nem um terço do dinheiro
Pois isso só aumentava
Frieza no corpo inteiro
Leitor meu caro amigo
Tenho que finalizar
Antes que o bodegueiro
Chegue aqui pra me cobrar
Diga aí se tem dinheiro
E se pode me emprestar.
Diosmam Avelino- 08- 02- 2014
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