o papagaio

Literatura de cordel:

O papagaio

Eu fiz uma visita

Ao sertão do moxotó

Lá peguei um papagaio

Pelado que dava dó

Mas cuidei do passarinho

Dei amor e dei carinho

Sem nunca deixa-lo só

Logo cedo de manhã

Eu dava papa pra ele

Brincava com o danado

Alisava o bico dele

Ele sempre sabidinho

Foi crescendo danadinho

Eu gostando muito dele

Começou ficar penado

Bonito bem colorido

Com penas de toda cor

Bem safado e atrevido

Aprendeu logo a falar

Assobiar e a cantar

Cresceu muito enxerido

E tirava a minha paz

Gritava no meu ouvido

Assobiava o dia todo

Pra me ver aborrecido

Era aquela gritaria

Do meu pé nunca saía

Nem que fosse escondido

Desbocado era ele

Só falava palavrão

Mexia com todo mundo

pois não tinha educação

Era mesmo um paspalho

Me dava muito trabalho

E muita preocupação

Não podia ver mulher

Que já dava uma cantada

Chamava de gostosona

Chamava de namorada

O bicho todo fuleiro

Oferecia até dinheiro

De cara bem descarada

Não podia ver menino

Que fazia presepada

Dizia muita pilheria

Na frente da molecada

E eu sempre me lascava

Vire e mexe apanhava

Sem eu ter culpa da nada

O pior aconteceu

Numa noite de novena

O padre rezando o terço

Quando ele entrou em cena

Foi pra cima do altar

Começou pilheriar

Com poses bem obscenas

O padre ficou calado

E o povo caiu no riso

Eu corri pra me esconder

Quase perdi meu juízo

O padre envergonhado

E o papagaio safado

Fez graça de improviso

Pois pense num papagaio

Para ter inteligência

Aprendeu tudo sozinho

Com tamanha competência

Aprendeu falar inglês

Alemão e o matutês

Com força da paciência

O bicho tem mesmo o dom

Na pratica da putaria

Até mesmo uma velhinha

Perturbou um certo dia

Começou passar o bico

Nas beiradas do furico

Dá velha dona Maria

Outra vez paguei o pato

Pois sobrou tudo pra eu

Por causa do desgraçado

Veja só no que se deu

Ele foi inocentado

E eu quase fui linchado

Acredite, o pau comeu.

Esse tal de papagaio

Aprontava por demais

Uma tarde se escondeu

Eu não esqueço jamais

Decolou para voar

Somente para cagar

Na cabeça de um rapaz

Eu não aguentava mais

Toda a sua estripulia

Dispensei o malfeitor

De forma que eu não queria

Disparei o condenado

Vendi prum refugiado

Que comprou com alegria

Mas pouco tempo depois

Fiquei impressionado

Ouvir chamar na porta

Fui atender o chamado

E quase que ali desmaio

Quando eu vi o papagaio

No portão todo pelado

Fui logo dizendo assim

O que quer? Pode falar.

Ele também respondeu

Eu voltei para ficar

Pois eu era bem novinho

Você me tirou do ninho

Agora tem que aguentar

Eu vivia com meus pais

Tinha lá nosso cantinho

Você me tirou de lá

Pra viver aqui sozinho

Me tirou da natureza

Me fazendo malvadeza

Me aguente rapazinho

Você tem certa razão

Reconheço que eu errei

Entre aqui pode ficar

Pois eu já te perdoei

Só espero que não faça

Nem um tipo de desgraça

Que eu não aguentarei

O papagaio se calou

E ficou desconfiado

Subiu para o meu ombro

Um pouco desajeitado

Brincando com minha gola

Depois foi para a gaiola

Se fazendo de coitado

Quando foi no outro dia

Bem antes do amanhecer

Ele fez a maior zorra

Acredite e pode crer

Começou logo a gritar

Acorda vai trabalhar

Vai cumprir com o dever

Me xingava toda hora

Era corno era veado

Levanta vai pro curral

Para dar ração ao gado

Se chegava um vizinho

Xingava ele todinho

Pra me vê envergonhado

Mexia com todo mundo

Um chiclete um apego

Eu nem aguentava mais

Vivia pedindo arrego

Querendo de volta a paz

Acredite meu rapaz

Ele tirava o sossego

Pensei comigo mesmo

Só pode ser maldição

Talvez seja é vingança

Ou talvez condenação

Se pudesse eu voltaria

E jamais eu pegaria

Esse papagaio vilão

Quero falar pra você

Nunca invente de criar

Respeite a natureza

Que se deve respeitar

Cada um tem o seu canto

Cada um tem seu recanto

Onde se deve morar.

Diosmam Avelino- 17- 12- 2014

@Direitos reservados....

DIOSMAM AVELINO
Enviado por DIOSMAM AVELINO em 19/10/2017
Reeditado em 15/05/2019
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