Carregaram o Barraco de Mané / Sobre as tábuas de um velho caminhão
(Este poema é baseado em fatos reais)
Mote de Valter Leal, por sugestão de João Capri (Poetas da Sopoespes)
I
Os mais velhos recordam certamente
Do barraco de Chico Boateiro
Um lugar de encontro corriqueiro
Pra comer o melhor Cachorro Quente
Mas o tempo passou e de repente
No barraco aportou nova gestão
E Mané assumiu a direção
Com um bar onde se bebia em pé
Carregaram o barraco de Mané
Sobre as tábuas de um velho caminhão
II
O barzinho era mal localizado
E o público às vezes barulhento
Tinha dia com tanto movimento
Que o local era bem congestionado
Tinha moto e carro estacionado
Em desordem e até na contramão
E se ouvia o som de um paredão
De pagode, de funk ou de axé
Carregaram o barraco de Mané
Sobre as tábuas de um velho caminhão
III
Mas também se tornou um bom lugar
Para encontros de velhas amizades
Fofocar e saber as novidades
Tomar uma cerveja ou só lanchar
Discutir futebol e paquerar
Jogar dama, xadrez e até gamão
Degustar caipirinha de limão
Uma água de coco ou um café
Carregaram o barraco de Mané
Sobre as tábuas de um velho caminhão
IV
Mas então a cidade evoluía
E o bar precisou ser demolido
Mané teve o barraco destruído
Sob olhares de quem triste assistia
Para alguns, cada tábua que caía
Relembrava na mente uma canção
Pra conter o tremor da emoção
Foi preciso tomar um capilé
Carregaram o barraco de Mané
Sobre as tábuas de um velho caminhão
V
Pra Mané, se as lágrimas foram amargas
Pelo menos já tem a garantia
De ganhar um melhor de alvenaria
Construído lá na Getúlio Vargas*
E assim, com instalações mais largas
Acredito que todos lucrarão
Com o tempo as tristezas passarão
Foi assim com o barraco de Dó Ré**
Carregaram o barraco de Mané
Sobre as tábuas de um velho caminhão
VI
Foi-se o bar, foi-se a Banca*** e os Coxinhos****
Melhorou toda a Duque de Caxias*****
Vão fluir bem melhor nas duas vias
Transeuntes, veículos e vizinhos
A cidade constrói novos caminhos
Para o bem da sua população
O barraco será recordação
Mas ninguém deixará de tomar “mé”
Carregaram o barraco e Mané
Sobre as tábuas de um velho caminhão
* Praça onde seria construído o novo barraco.
**Apelido do dono de outro barraco que foi realocado.
***Banca de Revista que ficava nas imediações do barraco.
****Apelido dado pela população pesqueirense aos canteiros de plantas próximos ao barraco.
*****Rua onde se localizava o barraco.