O PROFESSOR

Por Gecílio Souza

O saber é um patrimônio

De imensurável valor

Não é dádiva, é conquista

Mérito do conquistador

Entre o aprendiz e o saber

Há sempre um incentivador

Que do trem educativo

É o legítimo condutor

A construção do saber

Depende do educador

Conduzir a educação

É ato contínuo de amor

Instruir a cidadania

Previne a barbárie e o horror

Quem educa fala à psiché

E se torna um benfeitor

Certa vez afirmou Sócrates

O mais célebre pensador

Que o sábio é um obstetra

Impassível e sem temor

Típico parteiro de almas

Ávidas de luz e frescor

Resignadas e sedentas

Identificam o divisor

Entre a ignorância e o saber

E a este prestam louvor

A dúvida inquieta a psiché

Que aspira um interventor

Entra em cena o parteiro

Com o método questionador

Arrancando das entranhas

Sob lágrimas e suor

Educar é fazer parir

E não há parto sem dor

Mas seria tal parteiro

Um delirante sonhador?

Ou um mestre corajoso

Que com otimismo e ardor

Aposta no ser humano

Com desprendido vigor?

O desafio de ensinar

Não é sacerdócio ou favor

Trata-se de uma interação

Entre o aprendiz e o instrutor

Conhecimento se constrói

Mas o ânimos é seu motor

A ignorância torna o espírito

Arrogante e agressor

O sábio aponta para a luz

Tornando-se seu defensor

Expõe metas e trajetos

É leal colaborador

Não fornece o prato pronto

Nem escolhe o seu sabor

Dá sugestões contra o frio

E como fazer o cobertor

Se recusa a doar peixes

Pois não é piscicultor

Quer que cada aprendiz

Se torne um pescador

Instiga a dúvida profunda

É mestre, é pesquisador

Do próprio conhecimento

Cada aluno é construtor

O saber é como a música

Depende do compositor

Se manipulado, escraviza

Se livre, é libertador

A reflexão é para superar

O hábito decorador

Eis que geralmente o sábio

Causa ira e dissabor

Porque o verdadeiro saber

É crítico e desestabilizador

Da doxa ou opinião comum

E do estatus preservador

Das “verdades” convenientes

Que fazem da “ordem” um fator

De legitimação da força

Para banir o opositor

Aquele que faz do saber

Uma lanterna, um refletor

O conhecimento é “pecado”

Há de se punir o pecador

O saber é o pior inimigo

A qualquer grupo opressor

“Defende”-se a educação

Mas lhe põe qualquer gestor

Elogiam, mas fazem o mestre

Pedir esmolas no corredor

Se ele reproduz o sistema

É promovido a vencedor

Mas quando ensina a pensar

Tacham-no de doutrinador

Do conhecimento pleno

Não há nenhum detentor

Atira-se ao abismo o saber

Quando modelo e ator

Se intrometem nas diretrizes

Seja como e por que for

A sanha do obscurantismo

Ressurgindo com furor

A educação há de resistir

Ao palpiteiro amador

Uma genuína educação

Exige bom articulador

Na selva da ignorância

É ele o desbravador

Do projeto humanista

Se fez grande precursor

O exercício da docência

É nobre e encantador

O saber é acesso aos deuses

Que retribuem com fulgor

Aprendiz não é rebanho

Quem instrui não é o pastor

A educação não é um bem

Transportável em isopor

Nenhum país se supera

Negando o trabalhador

A privação do saber

Gera o mendigo e o infrator

A ignorância é solo fértil

Do corrupto e do corruptor

Num país analfabeto

Qualquer diplonado é doutor

A mentira veste terno

Dá autógrafos e licor

Os meios de comunicação

Impõem seu imoral vetor

Do ódio e da intolerância

Forjam o determinante fator

À revelia da educação

Não há projeto salvador

O sucesso de uma nação

Só será consagrador

Quando enfim reconhecerem

A relevância do professor.

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 15/10/2017
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