Sem entender
Vou-lhes contar uma história
Que nada tem de engraçada
De um povo muito sofrido
Que vivia a dar risada
Perguntei – me incomodado:
De onde vem tanta graça?
E percebi que a resposta
Não se encontrava em nada
Será que eles não notam
O dia a dia de desgraça?
E será que eles gostam
De rotina tão ingrata?
Confuso, então, eu sigo
Sem a questão explicada
Enxergo sem entender
Mais um tanto de risada
Num instante passageiro
Compreendi o que havia:
O povo era sofrido,
Sem cultura ou poesia.
Ele fora assim moldado
Pra não entender o que via.
E assim tudo era lindo,
Mesmo se o sangue escorria.
Quero fazer mudança
Contra essa ditadura;
A luta será difícil,
Mas a intenção é pura.
Trazer a dignidade
De quem perdeu a ternura.
E faze – los enxergar
Essa mão que os tortura:
Instigar nos corações
O quanto eles são valentes,
Que podem viver contentes,
Sozinhos ou com seus entes,
Sendo ateu ou sendo crente
O importante é a mente
Sem sucumbir minha gente,
Ao sistema ora vigente,
Que está pobre e doente!