O MATUTO E O DEPUTADO PROSA MATUTA
O MATUDO E O DEPUTADO
Pere aí seu dotô
Nãé qui o sinor é foimado
E vem lá da capitá
Qui pode mi isculabar
Mi chamado de matuto beradero
Só pro mode eu pergutei
Cum respeito e fé,
Cuma ia sua muié.
Fumos amigo desde minino
Nós era alem de amigus vizim.
Já binquei cum ela de errei
Qui hoje chamam amarelina,
Brinquei de padre e pecadora
Di midicu e dotô butava o meu ovido
junto do peito dela
Para ouvi seu coração
Com carinho e respeito
Mas isso não dá o direito
Do dotô me chamar de beradero
Pro ser rico querer mi iscuiambar
Lhe digo com minha simplescidade
De homem onrado e onesto
Sou matuto brocó beradeiro
Sou cuma um moradô da rua
Não levo desaforo prá casa
O sinor unas boas vai ouvir
De quem fala pro mode pro via oxente
Mas não tem medo de gente
Seja dotô rico deputado
Ladrão cumedor de bola e safado.
Sou matuto simsiô
Eu nasci lá no sitio catolé,
Depois de itaporanga,
Vinha prá cidade apé
Com uma apargata de burracha,
Feita de pinéu de camião
Os prego furando os pé,
Ela deixando masrca pelo chão.
Cantarolano vinha eu
Ou subiano uma canção.
Sou matuto lá das brenhas
To tempo de fugão de lenha
E de luz de candeiro
De letra eu não coneço
Só sei o que é dinheiro
Falo pro mode pru via ôxente
Com muito orgulho sou matudo
Nasci feito bicho bruto,
Danno de cume a gado
Sô matuto mais sô jente.
Só sei que é noite ou dia mode o só
De noite a lua bria,
De dia o sol é quem manda
E vem tostá a pele
Deste matuto de itaporanga,
E queimano os meus pés
Sem ter pena e nem dó,
De noite pru entre as frexas da teias,
Quando no céu ela incendeia.
A lua serve de meu cubertô
O dotô que istudou
Pras bandas da capitá,
Não venha me acorrigir
Quando eu errado falar,
Pois digo com cinceridade
Pode até dizer qui não presto,
Por não ter ido a escola
Trabaei prá não pedi ismola
Sou matuto iletrado
Mais sou descente e onesto.
Sei que vossa mecê é foimado,
E é um bom adevogado,
É famoso é depotado,represeta a nação,
Está metido no lavajato
E tabém no pretolão
Sou matudo falo pru via
Pru mode e ôxente
Pruquê não istudei
Sô tudo qui o sior pensar
Menus corruto ladrão.
Com muito orgulho sô matuto,
Nascido lá no sertão,
Cusiano num fugão a lenha,
Angu com leite e rubacão
Falando pru via ôxente,
Cu medo nunca miti em confuzão,
Não sô deputado, nem senador
Mas sõ onesto não sou ladrão
Veja o istrago que a exada fes
Aqui os calos em minhas mão.
Si não istudei dotô
Porque mi fartou a condição
Se istudfasse não tinha im casa
Arois mii e feijão,
Si não tinha ido pra capitá
Istudá pra ser dotô,
Mi canidatava a deputado ou senador,
Vivia chei de muié linda,
Pagava cum as propina,
Ou robano os eleitô.
João pessoa-pb,09/06/2016 Francisco Solange Fonseca