A REVOLTA DE JANAÍNA
A REVOLTA DE JANAÍNA
Miguezim de Princesa
I
Ela é rainha das águas
(De lagos, rios e mar),
Gosta de ganhar presentes,
De sorrir e de cantar:
O seu nome é Janaína
E também Yemanjá.
II
Todo Dois de Fevereiro,
Na Cidade da Bahia,
O povo faz uma festa
De carnaval e folia,
Celebrando Yemanjá
Com esfuziante alegria.
III
Mas, com a crise do Brasil,
Quase ninguém deu presente,
Alguns foram devolvidos
Por serem insuficientes,
Acharam pente Flamengo
E até escova de dentes.
IV
Muitos presentes voltaram,
Suspeitamos da razão:
Não chegaram no destino,
Enganchados em cordão,
Plástico, garrafa e pneu
Da feia poluição.
V
Janaína ficou triste,
Viu desconsideração,
Chamou o monstro do mar,
Quando estrondou um trovão,
E pediu que ele virasse
Mais de uma embarcação.
VI
Chamou o monstro do rio
E a mesma ordem foi dar:
Engrosse o caldo das águas
Para o barco que passar
Se chocar com a areia
E no fundo naufragar.
VII
Aconteceu na Bahia
Quando o Cavalo Marinho
Colidiu com arrecifes
Que estavam no caminho:
Dezoito pessoas morreram,
Entre elas um bebezinho.
VIII
Ponte Grande do Xingu,
Barco virou no Pará,
21 pessoas morreram,
O Brasil pôs-se a chorar
Sem entender a revolta
Que domina Yemanjá.
IX
Yemanjá era alegre,
Todo dia queria cantar.
Em suas águas cristalinas,
Vivia feliz a nadar,
Mas hoje só vê sujeira
E maldade em todo lugar.
X
Todos só pensam em dinheiro,
Em mudar o natural,
A ganância toma conta,
Vê-se triunfar o mal.
Cuidemos da natureza,
Façamos da gentileza
Um grito de Carnaval!