A mensagem no painel.
Num painel de propaganda
Alguém deixou um recado
Pra mulher que nele manda
E o deixou abandonado
Em uma palavra branda
Disse estar apaixonado.
Era um painel pequeno
Num local bem disfarçado
Molhado pelo sereno
E pelo sol enxugado
Era o apelo extremo
De alguém abandonado.
No painel estava escrito
Simplesmente eu te amo
Era um enorme grito
De um homem sem um plano
Mas no seu sentido estrito
Era o sentimento humano.
O papel era amarelo
Escrito com tinta preta
O traço era paralelo
No final uma corneta
Numa cor de caramelo
Com uma nota de opereta.
Não havia longas frases
Simples a pontuação
Não colou uma crase
Tampouco interrogação
A mensagem em sua base
Saía do coração.
Talvez quisesse dizer
Eu sempre vou te amar
Mas temia receber
Novamente do seu par
Que o seu maior dever
Era dela se afastar.
Pedia para a mulher
Novamente lhe aceitar
Faria o que ela quer
Não iria reclamar
Se infortúnio vier
Ele iria lhe amparar.
Era um morador da rua
Mas a família ele amava
Não queria amar a lua
Na sua mulher pensava
Da vida que era a sua
Pouca coisa ele esperava.
Naquele simples painel
Foi possível ele escrever
Como pode ser cruel
Ser submisso ao dever
Cada um tem seu papel
Na escala de poder.
Simples morador de rua
Demonstrava o seu amor
Expôs na sua alma nua
Ter ainda o seu valor
A verdade nua e crua
É que era um sofredor.
Seus amigos chateavam
Lhe chamavam de fracote
As mulheres lhe chamavam
Para ter um braço forte
Entretanto não bastavam
Eram um simples esporte.
É a sorte companheiro
Era o que respondia
Se ganhava algum dinheiro
Rapidamente escondia
Sabia que ser primeiro
Precisava todo dia.
Ninguém viu aquele homem
Comentar fracasso alheio
Seu almoço os outros comem
Seu jantar divide ao meio
Se os seus pertences somem
Ele esconde o seu anseio.
Seu desejo era poder
Ter seu lar, sua família,
Conhecia o seu dever
Apesar da sua trilha
Ser pesada e não saber
Onde estava a sua filha.
Não esconde a sua agrura
Porem dela não reclama
Atribui à conjuntura
A origem do seu drama
Porem sabe que a fartura
Que doou, hoje reclama.
Certo dia alguém passou
Perto daquele painel
Defronte dele parou
E olhando para o céu
Disse que não acabou
O que estava sob o véu.
Naquele simples recado
O amor se fez presente
Era um coração magoado
Que a injustiça sente
Merece ser perdoado
Pois talvez seja inocente.
Sua vida se resume
Em papel e papelão
Se um dia foi ao cume
Hoje tem sequer um pão
Vive a vida sob o gume
Do inocente na prisão.