Colo duro
I
Incrível pensar assim:
Hoje em dia ainda tem
Homem que quer ser macho,
Batendo, dando esculacho,
Esculhambando a mulher.
II
Mas quando ele se depara
Com quem pode lhe enfrentar
Aquele mesmo valente
Vira cabrito inocente,
Animalzinho qualquer.
III
Quem diz amar a mulher
E pensa ser dono dela
Resolve tudo na briga,
No tabefe, nunca liga
Para aquela do seu lado.
IV
E cansada de sofrer
Ela resolve lutar
Descobriu uma saída
Um alento para a vida
De sofrimento calado.
V
Sofre, chora, se lamenta
E o marido se desculpa
Promete que vai mudar
Ela volta a acreditar
Tudo acontece de novo.
VI
Um dia de madrugada
Ele chega da noitada
Cobre a mulher de pancadas,
De cinto, socos, unhadas,
Fazendo dela um estorvo.
VII
O vizinho ouve o barulho
Chama a Polícia, que prende
O valentão que se rende,
Sem esboçar resistência,
Como um cachorro mansinho.
VIII
E lá na Delegacia
Percebe que não tem jeito:
O marido contrafeito
Chora sentado no colo
Da Lei Maria da Penha.
(Ritemar Pereira, 09.8.2017)