O BANCÁRIO ATOR

Passei no meu primeiro concurso,

Más não satisfiz a minha vocação,

Minha voz não quis fazer discurso,

Más não silenciou o meu coração.

Decidido arrumei minha bagagem,

E comprei o bilhete da passagem,

Fui assim cumprir a minha missão.

Bagagem pobre com poucas malas,

Estava partindo para bem distante,

Para ouvir outros sotaques e falas,

E por certo trabalhar mais elegante,

Más só sentia dor no meu coração,

Querendo ficar preso no meu chão,

E sem aquele adeus tão marcante.

Na estrada o primeiro entardecer,

O pôr do sol triste sobre um monte,

A poeira cobria a luz do amanhecer,

E tudo que eu deixei antes da ponte,

A luz do meu olhar buscava a serra,

Já sentindo saudades da doce terra,

No velho ônibus da novo horizonte.

O meu triste olhar ficou mais arisco,

Em Xique Xique seria meu novo lar,

Nas margens do Rio São Francisco,

Muito cuidado para não me afogar,

Eram tantos obstáculos pela frente,

Vida nova, recomeço, tudo diferente,

A distância e a saudade do meu lugar.

Como bancário fui um excelente ator,

Ao fazer o papel de um bom bancário,

Atuei nas cenas com todo meu amor,

E não reclamei do palco e do cenário.

Completaria hoje os trinta e seis anos,

Com muito trabalho, sonhos e planos,

Contando os dias no meu calendário.

Más agradeço muito a Deus no céu,

Por todas as caixas e minhas vidas,

Por este Deus eu tiro o meu chapéu,

Pois ele cura todas as minhas feridas,

A caixa foi um emprego muito bom!

E de outras caixas sairá o meu som!

Casas e caixas d'agua foram erguidas.