A solidão

Solidão é dor na alma;

Sensação de estar só;

É gritar pedindo calma;

E não se julgar a mó;

É nunca perder a calma;

E também não querer dó.

É a pena do condenado;

É o sofrer do doente;

Companheira do ocupado;

O juízo do demente;

Ocupação do malvado;

Castigo do inconsequente.

Ela a muitos apavora;

Mas é amiga fiel;

Se com a idade piora;

É como o dedo e o anel;

A ideia então melhora;

Dando vida ao cordel.

O solitário não sofre;

Também não tem agonia;

Geralmente é algum pobre;

Que perdeu a companhia;

Pode ser algum esnobe;

Que sofreu pancadaria.

Pode ser um servidor;

Que chegou pra trabalhar;

Pode ser um eleitor;

Que ali foi pra votar;

Ou quem sabe algum ator;

Que irá se apresentar.

Pode ser um trovador;

Que não tem onde morar;

Também um compositor;

Às suas canções criar;

Ou talvez um sem amor;

Que esqueceu de amar.

Pode ser um joão-ninguém;

Que vive só no seu canto;

Esperando por alguém;

Que lhe surja como um santo;

Ou que nunca teve um bem;

Tendo seu o próprio pranto.

Pode ser um bom amigo;

Que não vai te incomodar;

Vai estar sempre contigo;

No momento e no lugar;

Lhe oferecendo abrigo;

Na hora que precisar.

Pode ser bom conselheiro;

Que irá lhe abrir os olhos;

Talvez seja um bom guerreiro;

Para lhe mostrar escolhos;

Ou quem sabe o companheiro;

Que já conhece os abrolhos.

Certamente é um irmão;

Que de ti vai precisar;

Tem vazio o coração;

Por não lhe ser dado amar;

Que da sua solidão;

Nunca virá reclamar.

Não existe solidão;

Para quem foge de ateus;

Levará no coração;

O melhor pra dar aos seus;

Faz da vida uma oração;

Pois é sempre crente em Deus.

Esse Deus não vive em casas;

E tampouco em ricos templos;

É um mar de águas rasas;

Não serve de complemento;

Brilha mais que qualquer brasa;

Mas caiu no esquecimento.

Deus criou a solidão;

Como algo universal;

Deu-a ao filho de Adão;

Como a coisa mais normal;

Cada um tem seu quinhão;

Como o salário do mal.

Pergunte ao seu jornaleiro;

Quantas histórias ouviu;

Do primeiro companheiro;

Que na sua banca viu;

E também do derradeiro;

Cujo lamento acudiu.

Não pergunte ao solitário;

Por que vive tão sozinho;

Pode ser um salafrário;

Se passando por bonzinho;

Ou talvez um sem salário;

Que perdeu o seu cantinho.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 30/07/2017
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