RECEITA PRA SER POETA
Atingir a perfeita métrica
De precisão matemática
Ou ser assim: meio assimétrica...
Ousar num erro de gramática...
Se ferir por demais a estética
Diga ser licença poética
Versejar é mesmo simbólico
Melhora com tempo e prática...
Ver cenas de diversos ângulos
Pintar pálidas faces de ébano
Rimar fora da sílaba tônica
Sejam ricas, tímidas, cálidas
A causar expressões atônitas
Provocando reações múltiplas
Pruridos pudicos em escândalo
Apontando-o como periférico
Ser na caminhada um nômade
Sangrar espinhos entre pétalas
Extrair das ostras as pérolas
Mentir uma paixão platônica
Penetrar o fundo do âmago
Desnudando a ânima do público
Tal a fugaz luz do relâmpago
Mágica, repetida e sempre única
Subir pelo lado mais íngreme
Construir à fórmula de Angélica
Dar graça a algum drama trágico
A reflexão no riso do cômico
Com lágrimas em lábios trêmulos
Desvendar segredos de Máscaras
Gravar-se nos lenços de Verônica...
Atravessar perene aos séculos
Cuidar não se tornar uma máquina
Criar em doses homeopáticas
Ao faltarem palavras... sem pânico!
Xícara de paz refaz o fôlego
O vazio certamente efêmero
Lembre-se impossível o unânime
Não inveje demais aos célebres
Méritos podem vir só pós túmulo
No testamento, um desejo último
A ser na hora triste o bálsamo:
Um velório com muita música
Parceiros entoem seus cânticos
E inscrevam na sua lápide:
“Passou rápido como um pássaro...
Este não foi rei, nem príncipe
Aqui jaz um poeta... sem rótulos!”