DEFEITO DE FABRICAÇÃO

Na vida fui sempre guerreiro

Desde o útero de minha mãe

Lutei só, em desespero,

Mesmo sem estar inteiro

Pra poder viver e ver

A luz deste imenso mundo

Foi tudo muito profundo

Meu empenho pra nascer.

Minha mãe tomava veneno

Pra poder me abortar

Tudo eu ia absorvendo

Às vezes até gemendo

Mas na vida eu grudei

Suguei tudo o que me deram

Os venenos que puderam

Mas da vida não soltei.

Dizem que vim enrolado

No cordão umbilical

Que foi um esforço danado

Por pouco fui enforcado

Mas dos laços me livrei

Eram todos laços de morte

Não sei se por Deus ou sorte

Que por pouco me salvei.

Durante toda a minha vida

Nada foi fácil pra mim

Quando eu era bebezinho

Inocente, pequenininho

Logo perdi o meu pai

Com apenas seis meses de vida

Abriu-me essa ferida

Que não fecha nunca mais.

No entanto a pior das lutas

Ainda estava por vim

Não era mais contra gente

Nem contra veneno ardente

Mas sim lutar contra mim

Sofri uma alteração

Um defeito de fabricação

Que hoje me deixou assim.

Sou um dependente químico

Desde o ventre de minha mãe

Luto pra vencer os vícios

Este é um dos grandes suplícios

Que tenho que carregar

Uma bipolaridade

Esquizofrenia mais tarde

E tudo tenho que levar.

Tenho ainda que vencer

O maldito preconceito

Pois tem gente que não entende

Muito menos compreende

O mal que isso causa a um homem

Que luta sempre com si mesmo

Que às vezes vive a esmo

Em meio aos males que o consome.

A minha simples esperança

É ter um dia de paz

Sempre um após o outro

Sem transformar-me no monstro

Tal qual uma assombração

Almejo só ficar bem

Sem magoar ou ferir ninguém

Por meus erros de fabricação.

Allan Johnny
Enviado por Allan Johnny em 16/07/2017
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