Profissões
Sou filho de agricultor
Neto e bisneto também
Criado com muito ardor
Do fogo que o sol tem
Estou meio sapecado
Os lombos tudo queimado
Não devo nada a ninguém.
Meu pai tinha uma enxada
Tratou de me ensinar
O ofício da danada
Aprendi a capinar
Milho plantado e feijão
Tudo enterrado no chão
Chovia pra germinar.
Estudar não dava tempo
Apesar da precisão
Só tinha escola pagada
E nos faltava tostão
O B A bá aprendendo
Olhando os outros escrevendo
Com a enxada no chão.
Trabalhei no Iguatemi
Foi o emprego primeiro
Eu passei fome ali
Mas, de mim fiz um guerreiro.
Vi gente a esnobar
Toda riqueza que há
Mas, nunca fui presepeiro.
Viajei no Ceará
Num carro da bolacheira
Com seu Luiz a Andar
Com ele fazia a feira
Ele vendendo e atendia
Eu as bolachas trazia
E macarrão de primeira.
Depois com a Dona Cosma
E com seu Antonio morei
Uma bodega de forma
O dia todo trabalhei
Depois fui me alembrar
Do meu bonito lugar
E pra cá logo voltei.
Fui morar com o seu Zé
Maria que era Queiroz.
Na sua casa e padaria
Tinha fama de feroz
Mas, era muito educado
Por ele fui estimado
Por não ser muito veloz.
Vendia pão e bolacha
Fatia tinha também
Assim a vida nos taxa
Com as surpresas que tem
Depois disso fui padeiro
No forno fui um forneiro
Assava o pão muito bem.
Casado sem ter tostão
E dois filhos pra criar
Um dia a precisão
Foi lá em casa morar
Um carrinho arranjei
Picolé dentro botei
E comecei a andar.
Foi duro, era difícil,
Era a situação.
No curriculo outro ofício
Aprendi com atenção.
Mexendo areia e cimento
Trabalhei que nem jumento
Mas, era um cidadão.
Trabalhei com o irmão Martim
Prestando muita atenção
Do começo até o fim
Como se bota no chão
Cerâmica com argamassa
Bem botado e nunca racha
Por isso sou sabidão.
Fui servente de pedreiro
Em outras situação
Precisava de dinheiro
Pra arrumar o feijão
E os buchudinhos crescendo
Mas todo dia querendo
O que chamamos de pão.
E comecei estudar
Lá pelo ano dois mil
Trabalhando dia e noite
Como todo mundo viu
Sou vigia, sim senhor,
Mas, também sou professor
Só não me chame bombril.
Se eu fosse aqui narrar
A minha vida todinha
A noite ia passar
E lá pela tardizinha
Não tava nem na metade
De minha toda verdade
Vou deixar nessa coisinha.
Se um dia aqui postar
Alguma arrumação
Que eu esteja a fuçar
Pode acreditar, irmão.
Foi porque quando sofri
Na vida eu aprendi
Uma ruma de lição.