Aonde vou?

Senhor Deus, estou errado

Em que estrada devo ir?

Apesar de enganado

Sei que posso lhe servir

E por ser afortunado

Nada tenho a lhe pedir.

Por que tanta sapiência

Nesse mundo de ilusão?

Por que tanta impaciência

Pra falar com um irmão?

Por que tanta indiferença

Por quem vive em solidão?

Não pergunte pra que serve

Tanta falta de amor

Pois na água que não ferve

Sempre falta algum calor

E no monte onde houver neve

Lá é fonte de vapor.

Esse Deus não é ouvido

Muito pouco respeitado

Só recebe algum pedido

De algum desesperado

E também é sempre tido

Como algum nosso empregado.

Deus não é nosso mordomo

Muito menos o engraxate

Ele é o nosso dono

Dele somos a menor parte

E tal qual da cana o gomo

Sem sabor, somos descarte.

Pense nisso meu irmão

Isso não é valentia

São palavras que então

Pra vocês eu não diria

Mas na minha solidão

Sempre tenho um novo dia.

Essa minha solidão

Não existe de verdade

Não está no nosso chão

Nem tampouco na cidade

Muito menos no colchão

Ou sequer na minha idade.

Não está no meu falar

Não está aonde eu vou

Não está no meu pensar

Nem tampouco aonde estou

Não está no trabalhar

Mesmo quando só estou.

Essa minha solidão

É a melhor coisa da vida

Não alcança o coração

Não estraga a minha lida

Sempre traz animação

Mesmo estando combalida.

Nunca fui um solitário

Tenho muitos para amar

Nunca pus no relicário

O desejo de ajudar

Nas muitas noites em claro

Aprendi a me escutar.

Fui vencido pelo tempo

Mas o meu passado é curto

Sigo andando com o vento

Falando pra quem é surdo

Mesmo assim sigo a contento

Pois eu sei que não sou mudo.

Serei sempre um vencedor

Nessa longa caminhada

Apesar da minha dor

Sei que pode ser curada

Pois Deus é o meu doutor

E me cura na jornada.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 08/07/2017
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