Aonde vou?
Senhor Deus, estou errado
Em que estrada devo ir?
Apesar de enganado
Sei que posso lhe servir
E por ser afortunado
Nada tenho a lhe pedir.
Por que tanta sapiência
Nesse mundo de ilusão?
Por que tanta impaciência
Pra falar com um irmão?
Por que tanta indiferença
Por quem vive em solidão?
Não pergunte pra que serve
Tanta falta de amor
Pois na água que não ferve
Sempre falta algum calor
E no monte onde houver neve
Lá é fonte de vapor.
Esse Deus não é ouvido
Muito pouco respeitado
Só recebe algum pedido
De algum desesperado
E também é sempre tido
Como algum nosso empregado.
Deus não é nosso mordomo
Muito menos o engraxate
Ele é o nosso dono
Dele somos a menor parte
E tal qual da cana o gomo
Sem sabor, somos descarte.
Pense nisso meu irmão
Isso não é valentia
São palavras que então
Pra vocês eu não diria
Mas na minha solidão
Sempre tenho um novo dia.
Essa minha solidão
Não existe de verdade
Não está no nosso chão
Nem tampouco na cidade
Muito menos no colchão
Ou sequer na minha idade.
Não está no meu falar
Não está aonde eu vou
Não está no meu pensar
Nem tampouco aonde estou
Não está no trabalhar
Mesmo quando só estou.
Essa minha solidão
É a melhor coisa da vida
Não alcança o coração
Não estraga a minha lida
Sempre traz animação
Mesmo estando combalida.
Nunca fui um solitário
Tenho muitos para amar
Nunca pus no relicário
O desejo de ajudar
Nas muitas noites em claro
Aprendi a me escutar.
Fui vencido pelo tempo
Mas o meu passado é curto
Sigo andando com o vento
Falando pra quem é surdo
Mesmo assim sigo a contento
Pois eu sei que não sou mudo.
Serei sempre um vencedor
Nessa longa caminhada
Apesar da minha dor
Sei que pode ser curada
Pois Deus é o meu doutor
E me cura na jornada.