RETRATO D'EU MESMO

Minha chegada aqui na terra
Foi algo esplêndido, triunfal
Num sábado frio de agosto
O ano caminhando pro final
Eu nasci para vencer na vida
Apesar de tão dura ser a lida
Eu venço cada batalha campal
 
Cheguei pelas mãos da parteira
Aquelas santas mãos abençoadas
Fez todo o trabalho de parto
Era sua missão naquelas paradas
Trabalhou com jeito e destreza
No seu rosto nenhuma tristeza
Eram alegria as lágrimas choradas
  
Logo que nasci fui me amamentar
Da seiva vinda do sangue materno
Eu sentia um pouco de frio, verdade
Afinal, no hemisfério sul era inverno
Leite para um bebê frágil e pequeno
Antídoto a cortar efeito de veneno
Nesse meu labutar que parece eterno
 
Vivi a infância no córrego do Cedro
Lugar bonito entre grotas e capins
Tinha uma vaca chamada Mansinha
Pelo pasto entre murundus de cupins
E no córrego lambari sempre tinha
No terreiro o ciscar torto da galinha
Havia patos, marrecos e aves afins
 
Mas cresci e vim para a cidade
Tentar estudar e crescer na vida
Enfrentei a chacota dos colegas
E a brincadeira às vezes doída
Mas das aulas tirei aproveito
Todo dia o dever estava feito
A lição da escola foi aprendida
 
Na vida é que se estuda de fato
E todo dia tem uma nova lição
É preciso escrever na linha certa
Não adianta ficar na lamentação
Se acaso errar, é preciso refazer
Saber na lida tirar o seu prazer
E não deixar o prazer ser ilusão
 
Agora casado e pai de família
Ainda tenho sonho e esperança
Que depois de cada tempestade
Haja momentos de pura bonança
E sigo feliz apesar da cara fechada
Mas minha cara é apenas fachada
Meu coração parece ser de criança


 
Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 06/07/2017
Reeditado em 06/07/2017
Código do texto: T6047552
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