Desilusões
Muitas surpresas na vida
Não são obras do acaso
Quase sempre é a saída
De quem vive o seu ocaso
Sabe que está na descida
Da montanha do descaso.
Seu olhar perdeu o brilho
Já perdeu a esperança
Não consegue ver o filho
Que se perdeu na andança
Faz da sorte o estribilho
Que lhe tira a tolerância.
Tem a sorte companheira
A gerir seu caminhar
Ela sempre é a primeira
Ao seu destino chegar
É também a derradeira
A sair desse lugar.
Das surpresas desconfia
Já sofreu desilusão
Tem pra si a nostalgia
Mas não tem satisfação
Esqueceu a alegria
Pois está na solidão.
O lutar desesperado
Contra a dor da ingratidão
Fez dele um velho zangado
Rabugento e falastrão
Mas está amargurado
Por não ter mais o seu chão.
É um lutador valente
Soube fazer sofrimento
Nisso foi bem competente
Não ouviu nenhum lamento
Disso tudo está ciente
Mas pôs no esquecimento.
Sua estrada de agora
A única que lhe restou
Sua paz deixou lá fora
Sabe que ela acabou
Esperando a nova aurora
Quer o que não cultivou.
Vai seguir o seu caminho
Enxergando um pouco além
Vai falando bem baixinho
Pra não magoar ninguém
Seu andar devagarzinho
É para esperar alguém.
Vive agora o seu passado
Que outrora lhe deu fama
Foi um homem abastado
Maltratou a sua dama
Hoje está abandonado
Apagou a sua chama.
Essa chama é o amor
Que negou para a família
Agora suporta a dor
Com o chá de uma vasilha
Que lhe deu o desamor
Que está na sua trilha.
Quem diria que esse homem
Foi um dia um general
Daqueles que sempre somem
Com as armas do arsenal
E em casa só consomem
Comida sem nenhum sal.
Vejam bem o que ele diz
Sobre a sua rigidez
Sua fala contradiz
Àquilo que sempre fez
Sua obra só condiz
Com a sua estupidez.
No seu tempo foi atento
Em prender o opositor
Esqueceu do argumento
Que falava de amor
Vive agora o seu momento
No andar de um sofredor.
Sua estrada está inscrita
No livro da sua sorte
Nele registrou a vida
Que não acabou na morte
Nele a volta está escrita
Em letras de cores fortes.