O PREGUIÇOSO DO PESO.

Quem corre de manhã cedo

É Ester para a cozinha

Eu não vou guardar segredo

Essa prática não é minha

Prefiro ficar dormindo

Sonhando que tô sentindo

Meu peso diminuir,

Se penso em caminhada

Fico de perna cansada

Volto de novo a dormir.

Eu já perdi um amigo

Pelo meu jeito pesado

Ele disse: "é um perigo

Tu pode ser enfartado

Falo isso pro teu prol

E esse teu colesterol

Pode ser o fi da linha"

Eu disse: que coisa feia,

Vá cuidar de sua veia

Que eu cuido cá da minha.

Não me fale em dieta

Que já vou sentindo fome

Não nasci para atleta

Eu nem gosto desse nome

Eu sou bom de refeição

Nisso eu sou campeão

Comigo ninguém igualha

Meu negocio é feijoada

Em matéria de buchada

Eu mereço uma medalha.

Meu avô já me dizia:

"Meu neto tome cuidado

Com essa tal de academia

Que deixa o povo suado

A gordura se acabando

E o corpo vai ficando

Parecendo um cipó,

Se quiser suar esqueça

Tome cana de cabeça

Com caldo de mocotó.

Eu nem olho pra balança

Só quero me balançar

Eu só sinto sustança

Na hora que vou deitar

Não quero ser um magrinho

E barriga de tanquinho

Isso é uma besteira

Eu sou feito um trator

Meu bucho é um lavador

Que faz medo a lavadeira.

Correr então nem se fala

Já nem sei mas como é

Eu não sou feito uma bala

Nem me chamo busca-pé

Pra tá correndo de graça

Rodeando uma praça

Como quem tá perdido

Melhor é correr pra rede

Que nem cansa nem dá sede

Nem deixa o corpo moído.

Deus me livre desse mal

Não quero esse tormento

Se dane abdominal

As favas agachamento

Levantamento de peso?

Eu não sou um obeso

Pra essa travessura

O peso que eu levanto

É quando saio do canto

Atras de uma rapadura.

Espero não me condenes

Por esse artifício

Mas já não uso mas tênis

Pra não lembrar exercício

Comprei um par de botinas

Pra trabalhar nas usinas

Onde não sinto esse tédio

Lá o açúcar é importante

Não se fala em adoçante

Que tem gosto de remédio.

Não uso a minha roupa

Esticadinha na pele

Mas quem vive só de sopa

Favor não me atropele

Mas vive de olho fundo

Parecendo um moribundo

Dando o último suspiro

Prefiro ter mas volume

Do que ter o mal costume

De parecer um vampiro.

Me mandaram jogar bola

Lá no campo da baixada

Eu não sou feito de mola

Não entrei nessa jogada

Pra correr e levar chute

E achar quem me insulte

Por conte de empurrão

Pra eu não virar brasa

Fui ver o jogo em casa

Na minha televisão.

Quem mora no litoral

Gosta de andar na praia

Mas quem é do arraial

Só presta pra levar vaia

Quer parecer com artista

Se dana fazendo lista

De dieta assombrada

Eu fico vendo e sorrindo

Enquanto vou digerindo

A minha macarronada.

Eu gosto de ser o que sou

Sem parecer com ninguém

Ninguém nunca me pesou

E eu nem pesei alguém

Onde moro não vacilo

Não converso sobre quilo

Para não ficar por baixo

Porque de tanto malhar

Eu já vi mulher ficar

Igualzinha a um macho.

Eu nem sou magro nem gordo

Sou meio arredondado

Porem não sou de acordo

Com quem é exagerado

Só fala em suplemento

Não tira do pensamento

Ovo fruta e batata,

Eu como o que tem na mesa

Não vou viver de beleza

Feito curió na mata.

Ciço veio me dizer

Falando feito gaiato

Que pra eu emagrecer

Comesse carboidrato

Eu disse: não tô maluco

Nem tô ficando caduco

Pra comer essa leseira,

Alem do mais companheiro

Eu não tenho dinheiro

Pra comida estrangeira.

Eu sei como me trato

Não preciso de babá

E esse tal carboidrato

Não é melhor que fubá

Fubá sim me convém

Me anima me faz bem

E acende a minha luz

Duvido o que tu ensina

Tenha mas vitamina

Que um prato de cuscus.

Esse mundo tá perdido

Ninguém entende mas nada

É ai que aproveito

Pra dá minha cochilada

Pois já me sinto cansado

Desse papo enfadado

Que não serve pra ter dono

Quem quiser vá praticar

Exercício ate cansar

Enquanto pego no sono.

Já limpei minha gaiola

Dei água ao canarinho

Concertei a caçarola

Já afinei o meu pinho

Cortei palha para o bode

Já pintei o meu bigode

Pra ficar mas remoçado

E ainda tem quem diga

Que só encho a barriga

Por isso que sou pesado.

Isso é uma injustiça

Querem tirar o meu couro

Eu não sinto preguiça

Sou disposto feito touro

Mas a inveja do povo

Essa sim é um estovo

Gorda feia e chata

Mas ainda tem pateta

Que dela não faz dieta

Mesmo sabendo que mata.

Eu vivo sem sentir medo

Com Ester a minha bela

Ela acordando cedo

E eu sonhando por ela

Meu serviço é amá-la

E em noite de lua clara

Pra ela não sou obeso

Por isso eu não aceito

Ser chamado sem direito

De preguiçoso do peso.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 24/06/2017
Reeditado em 24/06/2017
Código do texto: T6036523
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