CORDEL DE VIAGEM
Meu anjo tirou férias
fui pra Bagdá
antes não tivesse ido
a coisa não tá boa por lá...
De cara um homem bomba
perguntou se eu tinha isqueiro
disse-lhe que não fumava
nem por troca de dinheiro...
Saí e fui pro Irã
conhecer iguarias iranianas
logo cedo bem de manhã
uma mulher com cara de insana
quis que eu adotasse seu filho
que andava metido em arruaças
lhe disse que não podia adotar
um marmanjo de velha carcaça...
Me pus num avião e desembarquei
em Nova York e fui prum bar eclético
encontrei Trump fazendo um muro
nas fuças do povo do México...
De cá e de bem pra cá vim
pra cá e bem pra lá fui pousar
meu anjo disse ai de mim
coitado que ele vai infartar...
Dei um pulo na Venezuela
mas não tinha nem papel higiênico
o povo vive de vender arruela
e de comer calango transgênico...
Na Bolívia onde a Cola é Coca
o Evo vibrava com o novo mandato
todo ditador é meio muriçoca
e gosta de por o povo de quatro...
Peguei um jato e fui parar na Argentina
onde a política roda e roda e roda
e viver de tiranos é a sua sina
e muito gosta de viver de prosa...
O que fazer no velho Paraguai
que compra e vende o mundo chinês
e onde a comunidade brasileira
muamba busca como sempre fez?
O Chile ainda recomenda a democracia
onde estudantes tem o que fazer
estudar as leis e derrubar fronteiras
entre o que se faz e o que se fez...
Cansado da América do sul
embarquei e fui para a França
onde a dinastia da violência
quer deixar a sua herança...
Dei um pulo na Inglaterra
de tantas músicas e provocadores
onde agora a desgraça berra
sobre os ombros dos leais senhores...
Na Alemanha de um antigo matador
vi o futuro da máquina gargalhar
dentro de cada vigoroso motor
e skin-heads doidos pra matar...
Na Austrália a igualdade é quase verdade
por ter quem manda sendo tão diferente
e por que se faz o uso da liberdade
entre todos os gomos de cada corrente...
Em cada canto do mundo uma palavra
explica tudo o que acontece desde cedo
e nela todo coração lá tudo isso exala
esse sentimento tenebroso chamado medo...
Voltei à terra dos índios e dos cocares
às ocas periféricas dos mutantes urbanos
onde o que sobrevive são os avatares
dentro dos computas dos caras ciganos...
O mundo virou um lugar perigoso
cheio de malucos e autoridades danosas
por isso vivo de escrever o momento gozoso
em poesias e quiçá em verso e prosa...