SOU DE UM TEMPO...
SOU DE UM TEMPO...
I
Sou de um tempo em que o Hino
e a Bandeira -- indo e vindo --
deixava a voz por um fio...
de pé, com a mão no peito,
num Brasil quase perfeito,
que nos causava arrepio.
I I
Sou de um tempo em que o honesto
era a base, nunca o "resto"
de sociedade-modelo
e a mãe -- rainha do lar --
trabalhando sem parar
não andava nua, em pêlo.
I I I
Sou de um tempo em que utopia
jamais era fantasia
ou sonhadora ilusão.
Todos tinham ideais,
não eram coisas banais
que nos levavam à ação !
I V
Não se pensava em sair
do Brasil para se ir
para América ou Japão.
Queríamos um país
em que cada um, feliz,
tinha casa, emprego e pão !
V
Se plantava em todo canto,
muita gente -- lá no campo --
alimentava o país.
Hoje tudo está mudado,
no interior só tem gado...
e muito pobre, infeliz !
V I
Tempos em que nos cadernos
havia, do lado externo,
foto de um vereador
pois, mesmo sendo político,
nunca recebia crítica
porque era um benfeitor.
V I I
Daí nos vem um tratante
-- da plebe "representante" --
e proíbe a doação
porque será propaganda...
"dança-se" nessa "ciranda",
com danos sem solução !
V I I I
Mas, se o dinheiro é do povo,
porque não dar livro novo
e melhorar cada Escola ?!
No país do futebol
ter ensino de escol...
em vez de samba e de bola ?
I X
Se indicava a vereador
não militar nem doutor
ou lojistas usurários,
mas o barbeiro, o mascate,
professor, padeiro, vate,
camponeses e operários.
X
Não havia honorários,
"jetons", "auxílios",salários...
representavam de graça !
Foi durante a "ditadura"
de Vargas que a conjuntura
transmutou nessa desgraça.
X I
Mas hoje é só pecuarista,
empresário arrivista
que nem quer pagar imposto.
É usineiro sacana,
muito "doleiro" bacana
que vive escondendo o rosto.
X I I
O Brasil é paraíso,
tem de tudo o que é preciso
para viver sempre em festa.
Mas, como diz a piada,
"troquem essa canalhada",
que a Política não presta !
X I I I
Porém, pra tudo MUDAR,
basta tornar a votar
certinho, como os ingleses...
e o povo vota e re-vota,
vai-se o Tempo e não se nota
MUDANÇA, mas só revezes.
X I V
Quem vai pra Câmara quer
arrancar o que puder
lá dos cofres da cidade
e, quando entra na Assembléia,
faz do cargo uma "geléia",
pra "faturar" de verdade.
X V
Cria vantagens, "jetons",
vales, "despesas", cotãos"
sem ligar para a miséria
de um povo sem pão ou casa,
que a fome a saúde arrasa...
a situação é séria !
X V I
Chega o voto distrital...
"é melhor e não faz mal,
é nossa maior conquista" !
Vem com nome "carimbado"...
(de pilantra e de safado)
só se vota nos "da Lista" !
X V I I
Triste povo, tão "esperto",
hoje vive num deserto
de MORAL e de decência
e quer a Nação MUDAR
co'essa gente tão vulgar,
tratados por "Excelência" !
X V I I I
Voltemos de novo ao campo,
que cada um, no seu "trampo",
seja o orgulho dos filhos
e então -- com novos momentos --
povo de bons sentimentos
dará ao Brasil mais brilho !
"NATO" AZEVEDO (31/maio 2017)