O AMOR E O AMAR
Por Gecílio Souza
Verbo transitivo direto
Na gramática do coração
É um sentimento aberto
Com mais de uma variação
O amor é um dialeto
Parente próximo da paixão
A importância do objeto
Altera a nossa sensação
Ama-se melhor estando perto
À distância é solidão
Há o amor que é puro afeto
Regido pela afeição
Há amor de avós e neto
Materno e de filiação
Amor próprio, amor ao resto
Há amor pai do perdão
O amor calmo e o inquieto
Depende da dimensão
Ama o tolo, ama o esperto
O amor não faz distinção
O letrado e o analfabeto
Conhecem bem a lição
Quem divide o mesmo teto
Vive em perene provação
No amor não há o correto
Ele tem sua própria razão
Mas o seu maior deserto
É a ingrata desilusão
O amor erótico ao certo
Gera aprazível tensão
Amar é um ato com gesto
Que transcende a convenção
Amar não é um projeto
Nem tampouco uma opção
É um sentimento repleto
De artes da imaginação
E não há amor completo
Sem um toque de tesão
O alvo erótico predileto
Pode ser parente ou não
Ostensivo ou discreto
O amor é uma invasão
Ao ser por quem me desperto
Com um beijo, um aperto de mão
Inexistente e funesto
É o amor por obrigação
Quem não ama é um inseto
Vegetando sem direção
O humano mais abjeto
Faz do amor especulação
Cegamente segue o trajeto
Da trágica desolação
Amar é tornar-se arquiteto
Da mais sublime mansão
Edifício sem concreto
Que escapa à mensuração
Não vale um centavo encoberto
Vale mais que um trilhão
Até mesmo o deus Hefesto
Sucumbiu-se à tentação
Criou o fogo sem protesto
Seu feito não foi em vão
Se foi de incenso ou dejeto
Nobre foi a sua intenção
O amor deu causa ao incesto
Vedado pela civilização
Amor bastado ou modesto
Rechaça a ingratidão
Se os desejos piscam do teto
O amor responde do chão
Compõe o grupo seleto
Quem ama sem tapeação
Quando o amor é manifesto
O casal sai campeão
Seja declarado ou secreto
Amor não é competição
É o prisioneiro liberto
No colo da sedução
Limitar o amor é um veto
À natural inclinação
Não há moral ou decreto
Que revogue a pulsação
Amar é o caminho reto
Para a humana perfeição