História da mulher de lua no céu de agosto
Da rima fez-se o pranto,
que como quebranto balbucia,
e fez-se de tanto desencanto
o amor da mulher que eu via,
chovia, e da chuva fez-se rio,
e das gotas fez-se em mim,
um mar de melancolia,
e do amor da mulher que havia,
restou a nuvem,
que indo embora, o sol anuncia,
fazendo assim melhor o dia,
da dor fez-se a dúvida,
e quanto mais eu duvidava,
mais doía,
pelo amor que àquela mulher sentia,
feito um beberrão eu murmurava,
e daquela casa vazia,
que antes a mulher preenchia,
fez-se tanto espaço para teias de aranhas,
nas paredes e nas entranhas do peito sofredor,
quiçá o coração parasse,
pra amenizar minha dor,
mas não, do coração fez-se o remorso,
e das cores frias com tom de divórcio,
fez-se a ideia,
da ideia fez-se tal romance ou novela,
e de tanta falta do amor dela,
do diabo virei até sócio,
fiz um consórcio com a vida nova,
e até virei novo homem,
quem sabe se hoje fosse ontem,
eu traria ela de volta,
e da vontade fez-se a busca,
de esquina em esquina atrás da mulher,
e cada dono de bar, restaurante ou chalé,
nem por um trocado qualquer,
sabia do paradeiro da injusta...
Fiquei desesperado, "vish Maria me ajuda, amém",
e do desengano fez-se o ensejo,
o último ensejo que havia,
que é onde ela não se escondia,
pra lá dos trilhos do trem,
e lá chegando avisto ela,
como um pedaço de lua, no céu de agosto,
e de tanto desgosto de mim,
pergunto o porquê de ir embora assim,
e dela veio um sorriso,
do sorriso fez-se o derretimento da amargura,
que como se de lua fosse agora sol,
me iluminando de tanta quentura,
e entre as malas e meu amor à literatura,
pensando o quanto ela era linda,
e quanto essa vida é dura,
quase imaginando um romance,
até que de relance ela diz que estava à minha procura,
e da busca dela fez-se o desespero,
das teias de aranha da amargura,
disse que me perdoava,
e que pra dor no peito não havia armadura,
que na minha casa não me achara,
pois bem que eu só estava à sua procura,
e o amor se reconstituiu,
e da reconstrução da resiliência,
fez-se de tanta impaciência,
o que nenhum dos dois viu,
que o amor ainda espera,
e do amor faz-se o perdão,
e do perdão tudo se regenera,
inclusive o tal coração...