TRISTE SERTÃO ALEGRE

TRISTE SERTÃO ALEGRE

É preciso conhecer

para poder se entender

como vivem no sertão

sem água, escola, hospital,

sem uma vida normal,

c'uma pobre habitação.

I I

Levam existência dura

sempre na maior secura,

com eterna esperança

que um dia tudo melhore

ou que, ao menos, não piore

para os velhos e crianças.

I I I

Alguns "causos" vou contar

pr'o leitor apreciar

-- sem que pareça pilhéria --

fatos, coisas engraçadas,

que têm sabor de piada

pois nem tudo é miséria !

I V

Na terra dos burros, jegues,

não tem quem não se apegue

aos folhetos de cordel

que é o jornal daquela gente,

uma "TV" diferente,

"quadro" sem tinta ou pincel.

V

Há tempo o moço insistia

pra levar a jovem "fia"

do coronel ao bailão.

-- "Julinha é moça direita,

se "ôce" lhe fizer desfeita

te retalho no facão !

V I

-- "Dançar não tira pedaço,

vou "navegar" no regaço

dessa sua virgem filha" !

-- "De tirar não tenho medo...

receio que botes cedo

um "pedaço" dessa "quilha" !

V I I

Caso muito interessante

é o de uma jovem falante

que equilibrando a moringa

na cabeça, co'a rodilha,

voltava à casa na trilha

que circundava a restinga.

V I I I

Eis que surge um cavalo...

indo ao chão, com o abalo,

a menina mostra "tudo".

-- "Mecê viu a ligeireza" ?!

-- "Vi sim, "fia", mas com certeza

tem outro nome, contudo" !

I X

"LEOTA", herói verdadeiro,

largou emprego e dinheiro

pra registrar desafios...

atravessou caatingas,

bebeu água nas cacimbas,

dormiu no leito dos rios.

X

Seu livro "SERTÃO ALEGRE"

nos mostra -- de forma leve --

momentos bem divertidos

e no "VIOLEIROS DO NORTE"

artistas de toda sorte

têm registro garantido.

X I

Sem pensar em desistência

enfrentou com persistência

os problemas, duro fardo...

onde havia cantadores,

sofrendo apertos e dores

lá estava o Leonardo.

X I I

O escritor Leonardo Mota

jamais pensou em derrota

ao cumprir a vocação

de registrar os violeiros

cantadores, nos terreiros

de todo o imenso sertão.

X I I I

Séculos vão, segue a Vida

por vezes triste, sofrida

e por momentos tão boa...

e os cordéis registram tudo,

nos servindo de estudo

de um Tempo que, longe, ecoa !

"NATO" AZEVEDO

(em 24/maio 2017)