O nordestino e o presidente
Hoje quero te contar de
Um pesadelo que me deu
E que sem nenhum pesar
Agradeci muito ao meu Deus, como
Nenhum outro agradeceu,
Quando o tal do pesadelo
De minha mente esvaeceu.
Logo que cheguei no
Tal sonho tenebroso,
Me pus rápido à pensar,
Pois nordestino é ardiloso,
Foi quando percebi que
O danado é mentiroso.
Mas calma, que ei de explicar.
Enquanto andava a matutar
percebi um desatino,
pobre de mim nordestino, que
tratado como menino
não posso me apusentar.
Mas não parou por ai
O pesadelo danado,
Foi quando me apareceu
Um presidente mimado,
Cabra nada arretado,
De pé à minha frente ficou
Perguntando quem era eu.
Fiz questão que ele soubesse,
Que sou fio do Nordeste,
Da fazenda seu campestre,
Fio de silvestre e
Roceiro cabra da peste.
O danado prisidente,
Sem dar nenhuma atenção,
Perguntou sem pedir licença
Se eu sabia da tal
Reforma da prividência.
E eu muito matuto
Com a pergunta do danado
Disse num pulo só,
Com jeito de Zé gaiato:
Conheço não sinhô,
Me faça um favor
E me explique a atrocidade que
O sinhô me perguntou.
E ele muito esperto
falou com intiligência
Que a reforma da prividência
Era nossa salvação.
Do sulista ao nordestino,
Tudo quanto é trabalhador
Vão ter garantido
Os direito, igual dotô,
De receber na velhice
O dinheiro do Senhor.
- Veja, meu bom amigo.
(Disse o prisidento)
- Quando a velhice chegar
Não vai faltar alimento,
Porque eu vou garantir,
desde agora e para sempre,
O vosso belo aposento.
Mas desde pequeno sou manhoso.
Aprendi com cumpade moço
que quando a esmola é muita
O cego tem que desconfiar,
Então dicidi falar:
Sinhô, seu prisidente.
De besta só tenho a cara,
Diga logo o restante
E deixe a conversa clara!
Que quando esmola é muita
Na frente só vem porrada.
Ele já meio cabreiro
Com a minha indagação
Disse num só letreiro
Do que se trata a reformação.
- Depois de muito tempo dando
Sem com isso nada ganhar,
A pobre da previdência
Ficou toda irregular,
E eu fiquei com a missão
De acabar com essa agressão,
E no cargo de presidente
Implantar a reformação.
Eita, que só porque é prisidente
Tá pensando que sou besta?
Desde meus tempo de minino,
de meu avô, seu anchiêta,
É que tenho visto o povo
Contribuir com essa alambêta.
Donde foi que apariceu
Esse buraco do capeta?
- Meu amigo nordestino,
Tudo no mundo tem fim.
Na sua época de menino
A previdência brasileira
Gastava era bem pouquim,
Agora, nesses dias, foi que
O povo resolveu
Jogar o bucho pra mim,
E se aposentaro tudo
Nesse buraco sem fim!
Eita, que conversa desarrumada
De buraco e bucho tudo num canto só.
Mas trate de desamarrar esse nó.
Que pelo meu intindimento
Você ta é tirando provento
Do cargo de prisidento
Pra deixar o buraco maior!
Ora, amigo nordestino.
Vou lhe explicar de novo.
(Disse o tal homem do povo)
O Brasil antigamente, tinha
menos população.
Os novo era maioria
Servindo a nossa nação.
Foro tudo envelhecendo
Passaro a contribuir meno
Jogando todo o sustento
pra cima do aposento,
E a previdência, coitada,
Secou sem mais alimento.
Agora foi que deu
A danada desgraceira,
A culpa agora é do pobre
Que passa a vida na lisera
E quando chega na velhice
Inda tem ouvir besteira.
Naquele momento infeliz
Comecei eu a pensar,
Percebendo que o povo é que tava,
Irregular, que não tratáro ainda de tirar esse homi de lá.
E no fim do pesadelo,
Num repique ligeiro,
Acordei num pulo só,
Olhando o amanhecer
Como quem tem o prazer
de vê o Brasil melhor.
E pra encurtar a prosa
Eu aqui digo sem medo
Com coragem e emoção,
Tudo num só letreiro:
Abaixo a reformação
E VIVA O POVO BRASILEIRO!