Banho de chuva

I

Já ouvi muitas histórias,

Também vou contar a minha:

Foi quando eu tinha dez anos

Em uma cidadezinha,

Numa tarde de setembro

Vi cair uma chuvinha.

Chamei meu irmão mais novo

E outro amigo também vinha.

Saímos nus pelas ruas,

Pela chuva geladinha.

II

As águas faziam grotas

Nas sarjetas das calçadas.

E nós três tomando banho

E brincando nas levadas.

Nenhum dos três percebeu

As águas sendo minoradas.

E de repente notamos

As ruas movimentadas;

Descobrimo-nos pelados

Longe das nossas moradas.

III

O jeito foi enfrentar

As vaias de quem passava.

A casa que era bem perto,

Mais e mais longe ficava.

A minha namoradinha

Aquela cena avistava:

Quando eu tapava na frente,

Atrás tudo se mostrava.

Chegamos correndo em casa,

Minha mãe ficou bem brava.

IV

Vendo aquela situação

Do povo fazendo troça,

Minha mãe autorizou:

“Na próxima chuva grossa

Ninguém vai sair pelado”.

Que satisfação a nossa!

Pois quando se está brincando

Como bacurim na poça,

A gente nem nota o tempo,

Nem o caminho da roça.

V

E noutro dia na escola

A gente ficou famoso.

- É, tomar banho de chuva

Parece ser perigoso!

A gente se empolga tanto,

Brincar na chuva é gostoso.

Quando a gente toma tento

Do mundo maravilhoso,

A cena tem terminado

E o palhaço é tão manhoso!

VI

Isso ficou para exemplo

Não me empolgar com a espuma,

Nem tomar banho pelado

Pelas ruas da Inhuma.

Corria setenta e dois,

Uma lembrança igual bruma.

Nunca mais saí pelado

Quando o céu a chuva arruma.

Não passo aquele perrengue

Jamais, por chuva nenhuma!

Jarrê
Enviado por Jarrê em 16/05/2017
Reeditado em 04/05/2021
Código do texto: T6000472
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