O CASTIGO DA BARATA
Miguezim de Princesa
I
Ele vivia no fausto:
Era rico o antepasto,
Prato principal bem farto,
Uma mansão com cascata;
Agora vive assombrado,
Chorando, desconsolado,
Numa cela engaiolado,
Com medo de uma barata.
II
Dinheiro era como mato:
O filé-mignon no prato,
Vinha laqueado o pato
No país de Ettore Scolla,
Um bom vinho italiano,
Cantando ao fundo uma soprano,
Hoje ele come tutano
Com doce de mariola.
III
A vida era um festejar:
Champanhe em todo lugar,
Entradas de caviar,
Vasos de ourivesaria;
Hoje toma banho frio
Da água que vem do rio,
Se acocora num bacio
Que veio lá da Turquia.
IV
Só gostava de mansão:
Sua cama era uma vastidão,
A sala uma imensidão,
Nunca lhe faltava mimo;
Hoje o choro sai da goela,
Porque dói a espinhela,
Ao dividir uma cela
Com um rato, que é seu primo.
V
Que adianta ter luxado,
Até dos outros zombado,
Cheio de carro importado,
Depois ganhar uma sentença:
Trinta anos de cadeia,
Vê que a coisa ficou feia,
O desespero campeia,
Pois o crime não compensa!