O CASTIGO DA BARATA

Miguezim de Princesa

I

Ele vivia no fausto:

Era rico o antepasto,

Prato principal bem farto,

Uma mansão com cascata;

Agora vive assombrado,

Chorando, desconsolado,

Numa cela engaiolado,

Com medo de uma barata.

II

Dinheiro era como mato:

O filé-mignon no prato,

Vinha laqueado o pato

No país de Ettore Scolla,

Um bom vinho italiano,

Cantando ao fundo uma soprano,

Hoje ele come tutano

Com doce de mariola.

III

A vida era um festejar:

Champanhe em todo lugar,

Entradas de caviar,

Vasos de ourivesaria;

Hoje toma banho frio

Da água que vem do rio,

Se acocora num bacio

Que veio lá da Turquia.

IV

Só gostava de mansão:

Sua cama era uma vastidão,

A sala uma imensidão,

Nunca lhe faltava mimo;

Hoje o choro sai da goela,

Porque dói a espinhela,

Ao dividir uma cela

Com um rato, que é seu primo.

V

Que adianta ter luxado,

Até dos outros zombado,

Cheio de carro importado,

Depois ganhar uma sentença:

Trinta anos de cadeia,

Vê que a coisa ficou feia,

O desespero campeia,

Pois o crime não compensa!

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 05/05/2017
Código do texto: T5990625
Classificação de conteúdo: seguro