A SAUDADE DE NOS DOIS (aboio)
Meu amor sente saudade
Que lhe aperta o coração
É saudade de verdade
Das coisas cá do sertão
De comer com macaxeira
Galinha de capoeira
E tomar água no pote
Ver matuto assobiando
Contente e carregando
O seu filho no cangote.
Meu amor sente saudade
Do carvão virando brasa
De olhar a claridade
Pipocar dentro de casa
Comendo milho assado
Tomando café torrado
Na mesa de tamboretes
Ver Tonha fazendo renda
No alpendre da fazenda
Com bilros e alfinetes.
Meu amor sente saudade
Da estrada da baixada
As quatro horas da tarde
Passava uma boiada
Pisando pedra e toco
Um zebu mugia roco
Balançando o chocalho
E o vaqueiro Teixeira
Comendo com a peixeira
Um par de queijo de coalho.
Meu amor sente saudade
E um forte desengano
Por não ter mas na verdade
Sua boneca de pano
Brincadeira de criança
Lá no sitio Esperança
Onde nasceu e se criou
Brincando nas goiabeiras
Hoje não há brincadeiras
O tempo bom já passou.
Meu amor sente saudade
De comprar umbu na fera
De cortar pela metade
Um cacho de bananeira
De tomar caldo de cana
Na sombra da imburana
Na saída do arraial
De comprar piaba nova
Temperar e fazer prova
Pra ver se tá bom sal.
Meu amor sente saudade
De ver o entardecer
Ver mudar a claridade
Ate o sol se esconder
Isso no sertão é arte
A natureza faz parte
Desta bela inspiração
No horizonte figura
A mais perfeita pintura
Na tela da criação.
Meu amor sente saudade
Do buli e da peneira
Dos biscuit da mocidade
Dos pires na cristaleira
Do corredozão bem grande
E dos canecos de frande
Pendurados na cozinha
Do angu no caldeirão
E do tum tum bom pilão
Batendo de manhãzinha.
Meu amor sente saudade
Do zumbir da abelha
De ver a velocidade
Do gavião pela telha
Caçando o pobre pombo
Crava as garras no lombo
Depois desaparecer,
Sente saudade que só
De escutar o carijó
Louvando o alvorecer.
Meu amor sente saudade
Do dia que foi embora
Para morar na cidade
Onde vive ate agora
Vendo estranha gente
Lhe olhando diferente
Maltratada por patrão
Meu amor tá soluçando
Porque vive se lembrando
Quando viveu no sertão.
Meu amor sente saudade
Saudade eu sinto também
Ela por tá na cidade
Eu por está sem meu bem
Ela lá sente lembrança
Eu de cá a confiança
De cessar com essa dor
Ela de longe anela
O sertão voltar pra ela
E eu voltar pro meu amor.