CHICO DA COCADA
Vendo Chico cocada
Vendendo broa e goma
Eu pensei cá comigo
Isso não é bom sintoma
Quem vende goma e broa
É uma outra pessoa
Que não possuí essa fama.
Eu atravessei a rua
Fui para outra calçada
E perguntei ao tal chico
"Rapaz cadê a cocada,
Que tu vende todo dia?
Goma e broa, é fria...
Melhor é não vender nada"
*Nada não me dá lucro
Piora o meu sufoco
Broa e goma é ruim,
É feito um bolo oco
Mas veja meu camarada
Como vou fazer cocada
Se tá faltando o coco?
Está faltando o coco?
Eu fiquei espantado
Se Zefa da tapioca
Tá vendendo dobrado,
Isso é uma piada
Chico sem ter cocada
Algo deve tá errado.
Quando eu era menino
Chico tava na calçada
De segunda a domingo
Com sol ou trovoada
Cresci e fiquei rapaz
E Chico ainda faz
Sucesso com a cocada.
A cocada do bom Chico
É famosa na cidade
Compra o rico e o pobre
Sem nenhuma vaidade
Compra a dama feliz
E compra a meretriz
Na maior simplicidade.
Chico é um personagem
Que a todos conquista
Chico foi fotografado
Por tudo que foi turista
Já falou pra o jornal
feito lá na capital
Parecendo um artista.
A prefeitura daqui
Quando foi inaugurada
Um deputado famoso
Deu uma festa danada
O povo seguindo o curso
Ouviu em seu discurso
Ele falar da cocada.
O povo chega a falar
Como fala o inocente
Que a cocada de Chico
Serve pra quem tá doente
Pra espinhela doída
Basta só uma mordida
Que cura o paciente.
Aqui falta a chuva
E o pasto na picada
Falta carne sobra osso
E gente sem fazer nada
Falta o fruto fica o toco
Mas nunca faltou o coco
Pra chico fazer cocada.
Eu não quero criticar
Ele ou qualquer pessoa
Porem chico não combina
Vendendo goma e broa
É feito folha sem talo
Sino sem o badalo
E o rei sem a coroa.
Fui atras do mistério
Pra descobrir a charada
Desci morro subi serra
foi grande a empreitada
Penei que só um cativo
Para saber o motivo
De Chico não ter cocada.
Eu já vinha notando
Chico meio mudado
Cabelo na brilhantina
Sapato bem engraxado
Trancelim no pescoço
Chico parecia um moço
De cabelo pintado.
Ciça de Sinhá moça
Prenda bonita brejeira
tava com dificuldade
Pra vender broa na feira,
Ciça era tão bonita
Que parecia a bendita
Na festa da padroeira.
Chico sempre foi sozinho
Nunca teve namorada
Tinha vergonha de tudo
Não falava quase nada
Quando viu Ciça danou-se
O coração ficou doce
Parecendo com cocada.
Essa coisa de paixão
Quando sapeca na gente
Moí o peito cora o rosto
O que frio fica quente
Dá tonteira seca a goela
Só de pensar na donzela
O cabra fica dormente.
Foi assim que ficou Chico
Leve que só cortiça
Besta feito menino
Lento como preguiça
Rindo e suspirando
Feliz e assobiando
De tanta paixão por Ciça.
Meia volta volta e meia
Chico fazia uma visita
Na casa de Sinhá Moça
Na serra da santa rita
Levando bem embrulhada
Uma caixa de cocada
Enfeitadinha de fita.
*Sinhá Moça como vai?
-Cansada que só preguiça,
-A vida dá depois toma
-Isso é uma injustiça!
*Mas nem tudo é agouro
*A Sinhá tem um tesouro
*De ouro chamado Ciça.
*Ciça não tá em casa?
-Saio bem aperreada,
-Foi vender broa e goma,
-Mas volta sem vender nada
-O senhor não é culpado
-Do fregues acostumado
-Só querer comprar cocada.
Desse dia em diante
Vejam o que aconteceu
Pegou o que Ciça tinha,
Fez como se fosse seu
Vendeu tudo que foi broa
Não ficou uma pessoa
A quem Chico não vendeu.
Juntou todo o apurado
De tudo que ele vendeu
Entregou tudo pra Ciça
Ela se surpreendeu,
Pois a frase que concebi
É dando que se recebi,
Recebeu o que não deu.
Foi por isso que Chico
Parou de vender cocada
Pra não perder a paixão
E agradar a amada
Mudou de mercadoria
E vendeu com alegria
muita broa na calçada.
Ciça de sinhá moça
Ficou muito encantada
E por ele apaixonou-se
Sem ele lhe dizer nada
Por conta da sua ação
Entregou seu coração
Para Chico da cocada.
Hoje está nosso Chico
Com sua Ciça amada
Casados com três filhinhos
Ciço Chica e Mafalda,
E na praça estendido
Um tabuleiro sortido
Com broa goma e cocada.