O FININHO

NESTE TORRÃO PERDIDO DE MEU DEUS

VIVENDO LADO À LADO COM OS MEUS

FAMÍLIA DE HOMENS VALENTES

DE NOSSOS PAIS SOMOS DESCENDENTES.

SEU JOSÉ SEMPRE DE CARA AMARRADA

TRAZIA A NOSSA COMIDA MARCADA.

DONA MARIA, LOGO LARGAVA O SEU FEIXE

PARA CUIDAR DO ALMOÇO, QUE ERA SÓ PEIXE.

ERA PEIXE DE NOITE E DE DIA,

QUANDO ENJOAVA IA PARA CASA DA TITIA.

LÁ SEMPRE GOZAVA DE MUITA FARTURA,

ENTÃO VAMOS COMER ENQUANTO DURA.

MEU PRIMO CHAMAVA-SE JOÃOZINHO

TÃO DELICADO QUE SEU APELIDO ERA FININHO.

ERA UM MENINO BASTANTE LETRADO

EDUCADO, CUIDADOSO E DE FINO TRATO.

O TEMPO PASSOU E JOÃOZINHO SE FOI

PARTIU DESTA CIDADE NUM CARRO DE BOI.

FOI ESTUDAR NA CAPITAL,

ONDE PRETENDIA SER GENERAL.

LONGÍNQUOS VINTE ANOS SE PASSARAM

A SAUDADE DE JOAOZINHO NOS MOLDARAM

MINHA TITIA PREOCUPADA DIZIA

ONDE AQUELE MENINO VIVIA.

JOÃOZINHO NA CAPITAL CRESCEU

NO TEATRO FEZ SEU APOGEU.

E AQUELE GENERAL QUE TITIA IMAGINOU

VIROU COLOMBINA NUMA PEÇA QUE ENCENOU.

FICOU FAMOSO LÁ PRAS BANDAS DA CAPITAL

TODOS O APLAUDIAM EM SUA CENA TRIUNFAL.

SEU DESEMPENHO COMO COLOMBINA FOI MARCANTE,

ASSIM NASCEU JANETE, MUITO GRATIFICANTE.

CHEGOU O GRANDE DIA

JOAOZINHO VAI VOLTAR MINHA TIA.

A ALEGRIA NOS CONTAGIAVA

E A CIDADE EM FESTA O ESPERAVA.

VIERAM O PADRE, O PASTOR E O MACUMBEIRO,

DISPOSTOS A RECEBER O ILUSTRE COMPANHEIRO.

CORNEIRA DO ALTO SE VESTIA À RIGOR

PARA RECEBER O ILUSTRE DOUTOR.

O SOL BRILHAVA À PINO,

A BANDA TOCAVA O HINO.

QUANDO TODOS APLAUDIAM A CHEGADA,

ALGUNS BRADAVAM QUE ERA MARMELADA.

A LIMOSINE PARADA NA PRAÇA DO SERTÃO,

AS PORTAS ABERTAS ATÉ ENTÃO.

EIS QUE SURGE UMA BELA RAPARIGA,

COM SALTOS TÃO GRANDES PARECENDO DUAS VIGAS.

É JOAOZINHO, NÃO É FININHO,

O POVO BRADAVA EM BURBURINHO.

LOGO O SILÊNCIO SE FEZ OUVIR,

SIM, ERA JOÃOZINHO QUE ESTAVA ALI.

O JOÃOZINHO VIROU JANETE,

E JÁ NÃO ERA UM CABRA DA PESTE,

PORÉM PARA TITIA ERA FININHO,

APENAS SEU FILHO DE SALTINHO.

O SHOW CONTINUOU,

E JANETE QUE NÃO ERA DOUTOR,

ENFIM SE CANDIDATOU,

E A PREFEITURA ABOCANHOU.

NÃO SEI SE É JOÃOZINHO OU JANETE,

SÓ SEI QUE MEU PRIMO SE VESTE,

DO JEITO QUE O POVO GOSTA,

NESTA CIDADE DE BOSTA.

Maurice Astaire

Pepe Mauricio
Enviado por Pepe Mauricio em 21/04/2017
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