O MEU RIMANCEIRO * CHARLATANICES
De enxada em punho, porfia
esventrando o exausto chão.
Obsessivo, noite e dia,
busca o sonhado filão.
Nem um instante sossega.
Cava que cava o danado,
sem ver que a terra lhe nega
o filão tão almejado.
Ao vê-lo, pensando fico:
loucura é esta ambição
de ter poder, de ser rico
até à sofreguidão.
Grita que grita a quem passa,
num tamanho desatino,
que mais parece a desgraça
de alguém que perdeu o tino.
Todos fingem não ouvir
o seu constante alarido,
só ele, em seu persistir,
dá sentido ao sem sentido.
E por portas e travessas,
gritando desaustinado:
todos no mundo às avessas,
andam de passo trocado!
Porque só ele detém,
por desígnio de eleição,
supremo, o saber de quem
é a bela sem senão…
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 19 de Abril de 2017.