Cordel Aventurado
Légua medida por uma saudade brejeira
Distante se encontra a flor do engenho
Surge da pena inspirada que eu tenho
A íntima vontade conhecida e derradeira
A paixão se ergue como uma bandeira
E tremula no mastro fincado no peito
É uma dor medonha que não tem jeito
Rói por dentro, dilacera o sofrimento
Canta curió todo esse desajeito
Que desafina sem dó o sentimento.
A água fresca na cacimba se derrama
Escoa do peito sem barragem o sentir
Todo canto de amor que se faz ouvir
Enche o ar feito aroma que inflama
Sinta o cheiro dessa flor paraibana
Garapa de cana mais doce do sertão
Sua cor é a mais bela desta estação
Seu perfume se esvai na flor ao vento
Canta curió toda essa desilusão
Que desafina sem dó o sentimento.
Nesse galope ligeiro se vai a esperança
Como se fosse adiante o bem a perseguir
Quanto mais corre, mais difícil é seguir
De tão longe nem mais o olhar alcança
No fio de cabelo eu recordo a tua trança
Uma imagem esculpida com o cinzel da ilusão
Poesia declamada, um sonho de criança
Recitada nas entrelinhas do pensamento
Canta curió toda essa desesperança
Que desafina sem dó o sentimento.
O sino badala a hora santa da devoção
Branca e nua sai a lua em lume pranto
O negro véu se desfaz diante do encanto
A ternura ilumina as veredas da paixão
Agora se guarda em silêncio de espanto
A noite sem tu é triste rimando a solidão
Sua luz esparge em suave movimento
Canta curió toda essa desilusão
Que desafina sem dó o sentimento.
Teu beijo é doce, mais doce que rapadura
O teu chamego é um toque aveludado
Enquanto eu teço este cordel aventurado
Recordo em chamas o toque e a doçura
No mote que ainda perdura bem versado
O coração é uma zabumba que não fura
Colorido como a beleza do cata-vento
Pode bater saudade, tristeza e sofrimento
Canta curió toda essa desventura
Que desafina sem dó o sentimento.
Dedico este cordel a todos grandes cordelistas deste Recanto.