O reingresso na vida
Perguntei um dia ao vento
De onde vem o seu poder
Ele disse em um momento
Tudo que eu quero saber
Mas me falta entendimento
Para isso eu entender.
Ponderou sobre a fragrância
Que existe na floresta
Falou sobre a tolerância
Que existe em cada festa
Falou sobre a arrogância
Que na ingratidão infesta.
Perguntei como reter
Tanta força armazenada
Ele disse para eu ver
Uma sombra humanizada
E depois retroceder
Por alguma nova estrada.
Repliquei a sua fala
E falei pra ele ouvir
Sua força não me cala
Nada vai me impedir
Vou ficar na minha sala
E de la não vou sair.
Disse o vento a responder
Que eu sou como um vulcão
Tenho força e não poder
Causo só desolação
Quando faço acontecer
O que resta é solidão.
Perguntei qual a razão
Dele não me castigar
Já que fiz rebelião
E não soube respeitar
Ele disse que um sermão
Nada iria melhorar.
Essa severa lição
Ensinou-me a escutar
Ensinou-me que a visão
Não é só para enxergar
Ensinou que a retidão
Faz o sábio se calar.
Eu dobrei os meus joelhos
Pedi pra me perdoar
Aprendi com os conselhos
Como é nobre o escutar
E ao olhar-se no espelho
Nada ter pra reparar.
Vi o vento se afastar
Pra seguir o seu caminho
Eu por ele quis chamar
Mas vi que estava sozinho
Resolvi então calar
Pra sentir o seu carinho.
Fui em busca desse vento
Pra sentir o seu abraço
Mas andava desatento
E temendo algum fracasso
Então vi que o alimento
Me servia de embaraço.
Entreguei o meu oficio
Ao doutor da caridade
Afastei de todo vicio
Para ter tranquilidade
Hoje sem qualquer resquício
Procuro a felicidade.
Procuro a minha família
Procuro o pão que plantei
Procuro também a filha
Que um dia abandonei
E seguindo a minha trilha
O meu lar encontrarei.
Vejo o sol resplandecer
Mas não vejo o horizonte
Sei que cumpro o meu dever
Mas não chego à minha fonte
Todo esse padecer
Vou depositar no monte.
Esse monte que eu falo
É o monte do saber
Do saber que eu não falo
Porque preciso aprender
Hoje em dia eu me abalo
Porque nada é o meu saber.
Ouço alguém executando
Uma nota ao piano
Sei que há alguém cantando
Porque reparou o dano
Vejo a luz iluminando
O destino de um insano.
Vendo a luz do meu desterro
Fico sempre amargurado
Sei que fui ao meu enterro
Vi o meu corpo enterrado
La fiquei sobre um aterro
De concreto misturado.
Vivi toda a minha vida
Carregada de insucesso
No dia da despedida
Implorei pelo regresso
Porém para a nova vida
Precisei pagar ingresso.