A FESTA DA ÁGUA
Miguezim de Princesa
I
Quando menino em Princesa,
Todo coberto de grude,
Após pegar uma roleta
Com Zé de Dona Gertrude,
Corria para tomar banho
Tibungando no açude.
II
Era uma água cristalina,
Que vinha junto com o trovão
Que estrondava por cima
Da Serra do Gavião,
Os açudes de Princesa
Não tinham poluição.
III
Os prefeitos já roubavam,
Mas roubavam com cuidado,
Ajeitavam um calçamento,
Deixavam o mato roçado,
Davam uma parte para o povo
E ficavam com um trocado.
IV
Mas depois veio a ganância,
Tudo quiseram ganhar:
Em vez de fazer esgoto
Pra longe canalizar,
Levaram a matéria mole
Pra dentro do Macapá.
V
Encheram o Açude Velho
Do bom Padre Ibiapina
Com gerações de dejetos,
Foi esta a nossa ruína:
O que antes era limpo
Transformou-se em fedentina.
VI
Foi na década de sessenta
Que o governo fez o plano
De levar água encanada
Todos os dias do ano:
Era um povo abrindo os regos
E o outro enfiando o cano.
VII
Os canos de amianto
Começaram a perecer.
De tanto que foram usados,
Chegaram a envelhecer,
E quem sabe a água suja
Fez o povo adoecer.
VIII
Muitos anos se passaram,
Muita conversa fiada,
Muitos tapinhas nas costas,
Hipocrisia e risada,
A água ficando suja
E ninguém sem fazer nada.
IX
As águas do São Francisco
Chega aos lares de Princesa:
A cidade exulta em festa
Contemplando a natureza,
Que esse povo sempre teve
Muito bom gosto e beleza!