A partilha
Meu silêncio me tortura
Não consigo falar nada
Ando com desenvoltura
Mas não sigo a caminhada
Sou um caldo de cultura
Onde a força é dominada.
Meu silêncio é tão atroz
Que mudou o meu caminho
Ele cortou minha voz
Fez de mim um sem carinho
Aceitou ser meu algoz
Na coroa de espinho.
Fez de mim um enjeitado
O meu lar nunca me deu
Diz que sou pobre coitado
Que um lar não mereceu
Eu estou desconfiado
Que ele é um fariseu.
Não permite que eu fale
Pra dizer tudo o que sinto
Sempre ordena que eu me cale
Entretanto eu nunca minto
Se o que sinto nada vale
Por que tira o meu instinto?
Meu silêncio teve um dia
Pra dizer que não concorda
Entretanto esta ousadia
Foi apenas letra morta
Com sorriso de ironia
Com força bateu a porta.
Meu silêncio é muito amargo
Nada tem de alegria
Ele mantém o embargo
De chegar à alegria
Ele mostra o meu encargo
De servir à tirania.
Foi um dia reclamar
Perguntar por que estava
Preso naquele lugar
Onde nada melhorava
Obrigaram-no a calar
Pois senão ele apanhava.
Revoltado por não ter
Uma resposta decente
Procurou compreender
O que era mais urgente
No passado pôde ver
O futuro onisciente.
Foi um dia de vitória
Ver que estava caminhando
Carregava na memória
O que estava procurando
Poderia desde agora
Dizer que estava pensando.
Em seguida pode ouvir
Alguém perguntar se ele
Era quem queria ir
Procurar o que era dele
Prometendo repartir
O que não estava nele.
Esperou pela reposta
Que sequer compreendeu
Disse que a sua aposta
Era ter quem não nasceu
Também disse que não gosta
De lembrar o que perdeu.
Eu lhe disse calmamente
Poderemos construir
O que tenho é um presente
Dado por quem vai partir
Ele disse alegremente
Se ganhou, vá repartir.