A PEDRA E A PROSA
Entre a pedra e a prosa
Tem um cisco de gratidão
A pedra presa no chão
Firme, forte e rochosa
Parece está orgulhosa
Por ser rocha somente
A pedra dura não sente
Que a prosa lhe crava
Poemas que fura e cava
Rimas versos e repente.
Corre livre a prosa
No vigor da palavra
Solta o fio terce a lavra
No linho puro da glosa
Meiga flor tão mimosa
Nascida da emoção
Poema em combustão
Inflama como a tocha
Não consome pois é rocha
Pedra de inspiração.
A pedra que é jogada
No erro de um incauto
Vem de baixo pois do alto
Pedra não é lançada
Antes ela é lapidada
Por uma mão generosa
Que lhe deixa luminosa
Se transformando em arte
E finda fazendo parte
Dos declames da prosa.
A prosa é como chuva
Que escorre no poeta
Depois que rega, completa
A arte que não se curva
É como vinho de uva
Suave no seu sabor
Mas traz em si o vigor
Do brilho do diamante
Que vem da pedra cortante
Faiscando azul em cor.
A pedra que faz muralha
É pedra de proteção
Que serve pro gavião
Tecer o ninho de palha
É na pedra que se talha
A formosa escultura
Foi de pedra a lei dura
Com os dez mandamentos
Que trouxe ensinamentos
Na pedra sacra e pura.
A prosa que faz chorar
Faz rir quando bem quer
É solene quando requer
A pena que quer traçar
E a tinta vem revelar
Angustias, prazeres em fim...
Tão caros como o marfim
Tão alvos como a ternura
A prosa é prata pura
Entre versos de cetim.
Tem pedra que dá tropeço
Tem outra que dão abrigo
Umas servem pra castigo
Tem pedra que não tem preço
Há pedra que é o berço
De uma raça selvagem
Mas a pedra da vantagem
Se fixa no pensamento
Não racha no sentimento
E nem quebra na coragem.
Na arena dessa vida
Está a pedra e a prosa
A pedra rude e porosa
Por nada é atingida
Já a prosa é comovida
Com os que mentem ou juram
Sedentos bardos procuram
Os veios de onde medra
Vendo que a prosa e a pedra
As vezes ate se misturam.
Antes era só a pedra
Áspera, seca ou lodosa
Mas já havia a prosa
Só não havia a regra
Mas o tempo agrega
As duas com maestria
A prosa que ninguém via
Cresceu e ficou lida
Já a pedra é esculpida
É em si uma poesia.
A primeira pedra atire
Quem nunca fez uma prosa
Quem nunca viu numa rosa
Algo que não admire
Ou quem na pedra se inspire
Para esculpir sua arte
Pois cada uma é parte
Da fonte de inspiração
Pedra e prosa então
São do mesmo estandarte.