GOMOS DE PAIXÃO

A noite fria viúva

Viúva chora o sereno

Sereno rega o terreno

Terreno que brota uva

Uva fresca da chuva

Chuva sobre o riacho

Riacho no vale baixo

Baixo gemido é o teu

Teu amor floresceu

Floresceu em farto cacho.

A sombra que não é minha

Minha é só a figura

Figura na pedra dura

Dura semente de pinha

Pinha bordada a linha

Linha que te costurei

Costurei e te ponteei

Ponteei no meu coração

Coração bordado na mão

Mão de sonhos de dei.

Te dei um pouco que fui

Fui um pouco mas feliz

feliz porque eu te quis

Quis o teu ai o teu ui

Ui que pra mim diminui

Diminui também os teus ais

Ais que não ouço mais

Mais ainda desejo

Desejo teu curto beijo

Beijo envolto em corais.

A tarde sopra a brisa

Brisa na tarde vadia

Vadia sereia assobia

Assobia o canto desliza

Desliza o dedo alisa

Alisa o encanto seu

Seu pescador pereceu

Pereceu no fundo do mar

Mar que traga o cantar

Cantar que entristeceu.

A serra uiva assombrada

Assombrada na noite escura

Escura é a pintura

Pintura da madrugada

Madrugada toda parda

Parda cor sob a lua

Lua minguante nua

Nua noite em teu braço

Braço que corta o pedaço

Pedaço de uma dor crua.

Quem dera ser um astro

Astro do teu universo

Universo vasto de verso

Verso exposto no mastro

Mastro preso no lastro

Lastro de pedras e prantos

Prantos esses são tantos

Tantos que se confundem

Confundem, misturam e unem

Unem aos choros santos.

Quem anda rumo ao nada

Nada é, e nada sente

Sente o nada somente

Somente só é levada

Levada vaga assustada.

Assustada dentro do medo

Medo que guarda segredo

Segredo de aflição

Aflição que tolhe a ação

Ação que não mexe um dedo.

Por isso o meu destino

É por mim bem traçado

Traçado e bem pensado

Pensado e cristalino

Cristalino pensar divino

Divino riso é o teu

Teu riso em mim acendeu

Acendeu tanto assim

Assim teu riso em mim

Em mim teu riso é meu.

Beberei na tua fonte

Fonte que vem saciar

Saciar e acariciar

Acariciar teu lindo monte

Monte que está defronte

Defronte do corpo meu

Meu corpo ao monte correu

Correu como uma corsa

Corsa que corre, destroça

Destroça o monte que é seu.

A dama doa o seu leite

leite do peito que é seu

Seu leite o fruto bebeu

Bebeu tão bom azeite

Azeite este puro deleite

Deleite mas fino que vi

Vi o teu seio e senti

Senti tremor, reboliço

Reboliço e por isso

Por isso teu leite bebi.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 31/03/2017
Código do texto: T5957242
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